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Não somos loucos. Nem desmemoriados

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Peço licença para não comentar o empate chocho contra o Bangu nessa quinta-feira.
Ou melhor, comentar mais o que se ouviu na arquibancada do que se viu em campo – até porque uma coisa é reflexo da outra.
O muito que se escutou é reflexo do pouco que se jogou.
Diante do cenário de pasmaceira que permitiu ao time da casa criar bem mais chances do que o time que deveria ter mandado na partida logo nos primeiros minutos, muitos começaram a gritar em Moça Bonita: “Uh, El Loco!”, “Uh, El Loco!”. E alguns exibiram a camisa Celeste Alvinegra, que fez tanto sucesso durante a Copa do Mundo e virou símbolo da união alvinegra com o uruguayo Abreu.
Parte da imprensa criticou a atitude dos torcedores no estádio. Alguns chegaram a dizer que a torcida jogava contra o time ao ficar repetindo o nome de um jogador que saiu brigado com o atual técnico do clube.

Bem, aqui é necessário um freio de arrumação e explicar para quem não teve a paciência nem conhecimento de entender o protesto em Moça Bonita.

Os gritos de “Uh, El Loco!” significam menos a vontade de ver novamente o centroavante com a nossa camisa, e mais o desejo de ver longe o responsável pela saída do uruguayo: o sr. Oswaldo de Oliveira.

Mas, então, a torcida do Botafogo quer a saída do treinador porque ele se indispôs com um dos principais jogadores do elenco, mesmo sabendo que este jogador não parece mais capaz de jogar em alto nível, por causa da idade e das frequentes contusões?

Claro que não!

A barração e consequente afastamento do Abreu são até justificáveis do ponto de vista técnico. O que continua injustificável é o técnico Oswaldo de Oliveira ter permanecido no comando do Botafogo para a temporada 2013.

Porque ele demonstrou, por seguidas vezes no ano passado, ser incapaz de montar um time competitivo, apostando em esquemas táticos ineficazes (pra dizer o mínimo), e demonstrando pouca sagacidade (também para dizer o mínimo) na hora em que é necessário fazer alterações ao longo da partida. No Brasileirão, tomou nó tático de treinadores que ganham dez vezes menos do que ele. E a forma que nos fez cair fora da Copa do Brasil e da Sul-Americana foi igualmente vexatória.

Um novo ano começa e o time apresenta os mesmos erros de 2012, mesmo tendo mais peças à disposição. Aí vem o flashback do ano passado, ainda bem recente em nossa memória. E se descortina mais uma temporada de frustração, de chances desperdiçadas, e olha que dessa vez temos um elenco bem razoável, que pode nos levar a alguma grande alegria, caso seja bem preparado e capitaneado.

O grito de “Uh, El Loco!” tem um sentido primordial: lembrar de um jogador que fez mais pelo Botafogo do que o Oswaldo. O técnico ainda está devendo – e muito. É como se a exclamação significasse uma mensagem para a diretoria e um lembrete para o treinador – “esse cara que foi embora fez mais por nós do que você, então trabalhe para reverter essa desvantagem”.

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Não somos loucos de querer de volta o Abreu para que ele seja a estrela solitária do Botafogo 2013 – para isso, já estamos muito bem servidos, com um certo Clarence Seedorf.

Mas somos doidos para dar um ultimato ao Oswaldo: ou ele acerta o time, rapidinho, e nos dá resultados efetivos… ou ele vai embora e para de nos atormentar com sua empáfia desprovida de competência.

E, claro, estamos loucos para que o Oswaldo nos convença da sua capacidade e, DEPOIS DE UMA GRANDE CONQUISTA, venha a público arrotar sua superioridade, na linha zagallina do “Vocês vão ter que me engolir”.

Não torcemos contra você, Oswaldo; nem exclusivamente a favor do Loco. Você e parte da imprensa podem não acreditar, mas, apesar de você, nós sempre torcemos a favor do Botafogo.

Fotos: Lancenet!

PS I: Por motivos de força maior, o blog passará a ser atualizado com menos assiduidade durante o Campeonato Carioca. Não vai dar, por exemplo, pra comentar o clássico de domingo. Mas, toda vez que houver um fato importante, a gente aparece por aqui para comentar o assunto, combinado?

PS II: Este post foi escrito sem a utilização do nome Rafael Marques. Não foi necessário apelar.

Botafogo 1 x 2 Palmeiras: Dois barcos

Por mim, encomendava dois barcos para zarparem o mais rápido possível da sede do Mourisco: em um deles, Oswaldo Oliveira & Rafael Marques, treinador & pupilo. Na outra embarcação, a ridícula dupla de zaga, Antonio Carlos & Fabio Ferreira, que novamente falhou nesse lamentável jogo no Engenhão.

Ora, de nada adianta criar tantas oportunidades se não há atacantes para aproveitá-las. Ainda mais quando se sabe que a zaga vai entregar, em algum momento ela sempre entrega.

Não vou entrar nos pormenores da partida. Não dessa vez. Quem não viu o que aconteceu, pode imaginar. Mas gostaria de levantar alguns pontos:

* Quando Marcio Azevedo é nossa principal arma ofensiva, há algo errado.

* Quando Renato passa a se omitir ao longo das partidas, sem confiança nem para dividir uma bola na área adversária e nem marca nem arma, há algo bem errado.

* Quando Rafael Marques, o atacante indicado pelo treinador, só entra no segundo tempo, há algo muito errado.

* Quando a diretoria monta um time sem atacantes para disputar uma competição fortíssima como o Brasileirão, há algo profundamente errado.

* Quando a melhor chance do primeiro tempo cai nos pés do zagueiro pela inexistência de atacantes, há algo tremendamente errado.

* Quando um centroavante adversário faz quatro gols em uma semana no nosso time, há algo extremamente errado.

* Quando um time não consegue exercer o seu mando de campo em mais da metade dos jogos que fez em casa, há algo muitíssimo errado.

* Quando, enfim, a gente só pode vibrar com o gesto do Loco Abreu, respondendo à altura a provocação da mulambada mostrando o escudo glorioso, e esse jogador não está mais no nosso elenco, há algo escandalosamente errado.

* Há, portanto, uma série de erros. Oswaldo é apenas o mais visível deles.

Botafogo 0 x 1 Grenás: Onze lições para o Brasileirão

Anotações mentais que compartilho com vocês após o fim do Estadual:

1) Elkeson tem que ser vendido. Se ninguém quiser comprá-lo, que seja barrado. Sua displicência é inversamente proporcional ao futebol que está jogando. E a empáfia dele joga contra o time: armação de contra-ataques cada vez mais perigosos, por bolas perdidas de forma displicente, foi a tônica desse início de temporada. Já não temos muito dinheiro – e fizemos um péssimo investimento.

2) Loco Abreu deu todos os sinais que não vai aguentar ser titular absoluto com a maratona de jogos até o Brasileirão. Ainda mais em um esquema em que fica isolado na frente. É preciso contratar um outro centroavante, de preferência alguém mais jovem e mais rápido.

3) Os jovens Jadson e Gabriel, que entraram no maior fogo (com trocadilho), se comportaram muito bem. Mostraram personalidade e podem ser boas opções para o banco.

4) Nenhum time sério será campeão sem laterais reservas e apenas mais um zagueiro à disposição. O erro de planejamento do departamento de futebol é gravíssimo, mais uma demonstração inequívoca de incompetência gerencial, justo o atributo mais apregoado pelo presidente do clube.

5) Oswaldo perdeu a decisão, como comentou a alvinegra Ana Telhado no Twitter, quando não substituiu o Lucas no intervalo da primeira partida. E quando cometeu o segundo erro, de não fechar o time para evitar goleada.

6) Herrera continua uma lástima. O Marcio Azevedo melhorou bastante, e agora ao menos deixou de ser horroroso – está chegando perto do razoável.

7) Nossa zaga titular nunca foi grande coisa, mas surpreendeu pelo entrosamento quando começou a jogar junta. Agora, Antonio Carlos e Fábio Ferreira se mostram desatentos e facílimos de serem batidos quando enfrentam atacantes rápidos.

8) Toda invencibilidade é mentirosa. Algumas são mais mentirosas do que as outras.

9) O futebol do Renato está sumindo. Discrição em excesso.

10) Não temos um grupo de jogadores capazes de disputar, de verdade, o Brasileirão.

11) No próximo domingo, na estreia contra o São Paulo, espero o mesmo espírito de luta demonstrado no segundo jogo da decisão do Estadual. É o mínimo que merecemos.

 

Botafogo 3 x 1 Vasco: Instante Mágico

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Poderia falar aqui da monstruosa atuação do Fellype Gabryell e do acerto do Oswaldo em escalá-lo no lugar do Renato.

Poderia falar aqui também da estrela do Loco Abreu. Cinco gols em dois jogos decisivos? Só para quem conhece, como poucos que passaram pelo Botafogo nos últimos 10 anos (só lembro do Dodô), o ofício de balançar as redes. E o fato que ele contribui na defesa ao afastar as bolas altas que vão no primeiro pau da área alvinegra também não pode ser desprezado. Sem contar o seu evidente poderio psicológico, que amedronta zagueiros como a dupla do Vasco desse domingo.

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Também poderia aproveitar o espaço para destacar o fôlego e o senso de batalha do Marcelo Mattos que, praticamente sozinho, destruiu quase todas as jogadas vascaínas que nasciam pelo meio. Sua melhor atuação em 2012, fácil, fácil.

Talvez eu pudesse também falar da efetividade do apoio do Marcio Azevedo, essencial no primeiro gol, apesar de suas crônicas dificuldades na marcação.

Quem sabe eu devesse aproveitar a vitoria para dizer que o esquema do Oswaldo, enfim, parece ter engrenado de vez. Velocidade, passes rápidos, troca de bola, envolvimento do adversário até o bote final. Sim, Oswaldo, é possível vencer jogando bem. Jogando muita bola. A torcida, quando isso acontece, agradece e retribui (sempre retribuirá), com muitos aplausos, jamais com vaias.

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Poderia, por fim, dizer que o Botafogo desmontou o Vasco de uma forma inapelável, incontestável, como vem fazendo nos jogos decisivos nos últimos anos contra o time cruz-maltino. Não se pode nem dizer que o adversário vendeu caro a derrota. O (bom) time do Cristóvão não jogou nada; simplesmente amarelou. Se eu fosse vascaíno, pensaria duas vezes antes de sair de casa para assistir a uma decisão contra o Glorioso. 

Mas isso, de uma forma ou de outra, vocês já viram, já leram, já comentaram, já festejaram. Me permitam, então, “esquecer” a análise geral da partida para destacar apenas um instante. Não durou mais de um segundo. Me refiro aquele momento em que o Maicosuel, de frente para o Fernando Prass, fingiu chutar e fez o goleiro desabar, facilitando a conclusão, fazendo o terceiro gol e garantindo a festa da primeira taça erguida pelo Botafogo em seu estádio.

Foi o instante em que o melhor do Maicosuel novamente esteve diante de nossos olhos: o jogador impetuoso, diferenciado, capaz de levantar a torcida com um drible e com um golaço. Como tinha sido, contra o mesmo Vasco, na semifinal da Taça Rio de 2009. Ali, naquele gol antológico, nasceu o Mago:

.http://www.youtube.com/watch?v=RrL9pqtXYwU

E quantas vezes a gente sonhou que aquela magia voltasse a nos encantar, enquanto ele esteve na Alemanha e depois que ele voltou? E quantas vezes nos decepcionamos? E quantas vezes ele mesmo se cobrou, ao não conseguir fazer jus ao status de ídolo alçado pela diretoria, para justificar o investimento?

Foram muitas, muitas vezes. Eu mesmo já tinha desistido dele, ao menos como o principal nome do time. E talvez tenha sido melhor assim: sem tanta pressão, Maicosuel voltou a jogar o fino da bola. E, ao menos num instante nessa decisão da Taça Rio, ele voltou a ser o Mago.

Que venham outros momentos gloriosos, surpreendentes, iluminados.

Enfim, que a magia de Maicosuel volte a nos encantar e nos emocionar.

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Essa é a magia da camisa 7 do Botafogo de Futebol e Regatas.

Estrela no peito, alegria no campo.

Eis a magia do futebol.

Fotos: Lancenet!

PS: O presidente do Botafogo não pode se aproveitar de conquistas para aparecer na mídia, levantando taça, antes dos jogadores. Esse é o papel do capitão do time. Bola fora, sr. Assumpção.

Novas camisas: nota 8

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Gostei bastante das novas camisas, enfim apresentadas pela PUMA na noite de segunda-feira, em General Severiano.

Acho que a mais chamativa é a branca, por ser a mais inovadora, com o retângulo preto na frente, deve ser campeã de vendas. Da minha parte, achei de muito bom gosto a decisão de não se mexer substancialmente na camisa alvinegra – ela é clássica, e assim deve permanecer. Não vou comentar sobre os patrocinadores enfeiando o uniforme, porque sabemos que esse é um jogo perdido – quem paga mais leva, e quem paga menos, também.

Pra não dizer que tudo é motivo de júbilo, não gostei nem um pouco da fonte utilizada para a numeração na parte de trás da camisa alvinegra – ficou bem tosco. E ainda tenho dúvidas sobre esse fogo crepitando na parte de frente, especialmente visível na camisa preta. Imagem

“Esse fogo no meu peito” está no limite entre o genial e o apelativo, entre o classudo e o brega, mas se ele queimar em cada um dos jogadores, tá valendo.

No mais, fica evidente, pela escolha dos jogadores que serviram de modelo, que o prestígio do Fellyppe Gabrryell está em alta também na diretoria – acho que, dos jogadores que posaram, é o único emprestado, com contrato terminando no fim do ano. E foi bacana terem chamado o Elkeson para participar – ele precisa ter mais contato com o botafoguismo para ganhar mais confiança com a torcida.

E vocês, o que acharam?

Botafogo 1 x 1 Treze: Aqui, não!

“Aqui, não!” Gritou Jefferson para o trezeano que resolveu brincar de cavadinha e permitiu ao nosso goleiro defender a cobrança sentado, usando só a mão esquerda, finalizando a série de pênaltis na final da Liga dos Campeões, digo, da primeira fase da Copa do Brasil.

Eu aproveito o desabafo de Jefferson, coisa rara na trajetória de um jogador tão tranquilo (e por isso mesmo tão sintomática de um problema maior), para dizer que dá vontade de chegar em General Severiano e, ao ver apontar o Marcio Azevedo e o Fábio Ferreira, gritar: “Aqui, não! Aqui, não!”

De tirar o Jobson de campo enquanto ele não recuperar a plena forma física e gritar para o departamento médico que não dá para conviver com tantas lesões no início da temporada: “Aqui, não! Aqui, não!”

De ter coragem de tirar o Loco Abreu da relação de cobradores de pênaltis, logo ele que fez uma ótima partida, fazendo um gol e fazendo pelo menos três assistências: “Nessa lista aqui, não! Nessa lista, aqui, não!”

De dar parabéns ao Herrera pelo espírito de luta, pela garra, mas apontar para o gramado e dizer que ele não tem condições técnicas de ser titular do Botafogo: “Ali, não! Ali, não!”

De fazer o departamento de futebol do Botafogo entender, de uma vez por outras, que com esse elenco limitado, não chegaremos a lugar nenhum. “Aqui no meu time, não! Aqui no meu time, não!”

De determinar que o Botafogo não foi feito para sofrer, pelo segundo ano consecutivo, na primeira fase da Copa do Brasil. E de lembrar que ganhar na disputa de pênaltis do Treze só não é mais humilhante do que ser eliminado da mesma forma.

Enfim, é preciso muitos gritos de “Aqui, não!” para que o Botafogo volte a conquistar a dimensão que tem, e que construiu de forma tão gloriosa. E dá um baita desalento perceber que estamos muito, muito longe desse dia.

Parabéns, Jefferson. Por pegar o pênalti e por ter, na noite de quarta-feira diante de 3 mil testemunhas no Engenhão, incorporado o espírito explosivo de Heleno de Freitas naquela mistura apaixonada e catártica de grito com desabafo. Por um instante, você lavou a nossa alma – mas o corpo continua dolorido, sofrido, castigado, anestesiado.

Você, Jefferson-Heleno, mereceu a classificação. E só você mereceu essa classificação.

Foto: Lancenet!

A culpa é minha: uma crônica alvinegra

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Desde que, por motivos profissionais, passei a freqüentar assiduamente a ponte aérea Belo Horizonte-Brasília, tenho como companheiro inseparável um radinho de pilha (R$19,90), hábito adquirido na infância após os devidos ensinamentos do cronista titular desse blog, o Pereirão. Alguns minutos antes, ligo na CBN Rio para acompanhar o pré-jogo — e, no intervalo, gosto de ouvir o Evaldo José gritando “Que lindo!” e de prestar atenção nos comentários, tão pertinentes quanto mal-humorados, do Alvaro Oliveira Filho. Toda semana, o radinho vai e vem na minha mochila; certamente já acumulou mais milhagens do que o Lula em tempos presidenciais.

No ano passado, durante o Brasileirão, deixei o rádio em BH apenas uma única vez — naquele fatídico jogo contra o São Paulo, no Engenhão. Resultado: o Loco perdeu o gol mais feito da história pré-Deivid, o São Paulo empatou naquele lance dos 500 anos (Rogério Ceni para Rivaldo) e a gente reviveu aquele gosto tão familiar de guarda-chuva.

Foi o primeiro sinal  — e eu o ignorei.

Supersticioso que sou-e-tento-não-ser, pensei no que poderia ter sido alterado na rotina e lembrei a ausência do meu amigo invisível. Jurei que nunca mais falharia na tarefa de carregá-lo comigo — o Botafogo, sim, falharia seguidas vezes, mas com Caio Jr colocando a culpa na torcida e a estranhíssima entregada na reta final, não havia simpatia que resolvesse o nosso problema.

Muito bem: começa a temporada 2012 ao mesmo tempo que retomo, devidamente acompanhado pelo radinho, as viagens semanais. Mas o meu companheiro passou a emitir sinais de fraqueza, tipo Elkeson no segundo tempo (ou Lucio Flavio o tempo inteiro). Nem com pilhas alcalinas foi possível reanimá-lo. Meio a contragosto, tive que comprar outro. E isso aconteceu justo na última quinta-feira.

O novo rádio (R$29,90) é bem mais potente, som ótimo, dá até para ouvir com o chuveiro ligado sem precisar fechar a torneira. E foi com esse rádio, novinho em folha, que escutei atentamente o pré-jogo (o Botafogo ganhou de 7×4 na escalação ideal dos especialistas da rádio, entre eles um Dejair se declarando alvinegro e um Valber bem alegrinho) e, depois que deu um pau no link do computador ( é dura a vida de quem não tem PFC disponível o tempo inteiro e por isso, é surpreendido ao se deparar, em vez de vasco x flamengo, com América-MG x Nacional de Nova Serrana ), tive que acompanhar os penais na base do som. Sim, meus amigos: sem imagem.

Quando o juiz apitou o fim do tempo regulamentar, eu só pensava em duas coisas: no confronto Cavallieri x Loco no Brasileirão e no meu velho rádio. Tentei ressuscitá-lo, e ele (o rádio, não o Loco) até deu lampejos de vida: aquele foi o segundo sinal. Mas eu, de novo o preteri. Pior: decidi chutar a superstição para o alto, como se fosse um pênalti cobrado pelo Elano. Voltei ao novo radinho e liguei no volume máximo, pronto para berrar “Fogo!”: seria um grito que acordaria não só o hotel, mas a vizinhança inteira, forte o suficiente para rasgar o silêncio na Savassi e acordar até o fantasma de Tancredo no Palácio da Liberdade.

Bem, o resto da história eu e todos botafoguenses já sabemos — menos o Oswaldo, a julgar pela alucinada entrevista pós-jogo na qual enxergou uma superioridade alvinegra: o grito virou silêncio. Tivemos mais uma noite maldormida e um dia de ressaca. Para os botafoguenses, a quarta-feira de cinzas caiu na sexta.Dessa vez, porém, a culpa não foi das vaias da torcida do Bonsucesso, das camisas esquisitas do Oswaldo, da falta de pernas do Loco, da falta de pontaria do Herrera, da falta de neurônios do Márcio Azevedo.

A culpa é toda minha. Mas, de hoje em diante, nada será como antes: todo dia de jogo do Botafogo, em qualquer direção que eu estiver, mesmo tecnicamente morto, meu radinho combalido mas pé-quente continuará me acompanhando.

Meu rádio, cinza e prata por fora e alvinegro por dentro, é o verdadeiro, o autêntico, o único talismã.

Uma reflexão contundente

Perdoem a falta de atualização do blog. Um desânimo bateu neste que vos escreve – e me faz refletir sobre o que será do nosso amanhã, e como não se abater novamente com sonhos desfeitos e expectativas frustradas. Até gostei da contratação do Oswaldo de Oliveira, acho que o Botafogo precisa nesse momento de um técnico experiente e ponderado – só não pode ser excessivamente ponderado, é preciso agitar a água parada e turva que empoçou no Engenhão. Mas não me animo nem me atrevo a fazer prognósticos em relação ao desempenho de treinadores, ainda mais sobre um que está há 5 anos afastado do cotidiano do futebol brasileiro. Enquanto vou ruminando amargura por aqui, deixo-vos com a leitura do contundente artigo “Desilusão, desilusão”, do escritor alvinegro Arthur Dapieve, publicado no Segundo Caderno de O Globo dessa sexta-feira. Leitura obrigatória – dentro e fora de General Severiano.

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“Desilusão, desilusão”

por Arthur Dapieve

flamengo, campeão brasileiro de 2009. fluminense, campeão brasileiro de 2010. vasco, campeão da Copa do Brasil de 2011. Os três classificados para a Libertadores da América de 2012. Botafogo… Botafogo… Hum, bem, campeão carioca de 2010.

Sejamos francos. Títulos estaduais hoje só contam para a estatística de quem os conquistou. Pouco representam em termos futebolísticos, quando os quatro grandes clubes invariavelmente triunfam sobre dois médios depauperados (América e Bangu, que têm brilhante história) e uma multidão de pequenos semiprofissionais do interior.

Como botafoguense, claro que valorizei o título de 2010. Cheguei ao exagero de escrever, ao pé do meu balanço alvinegro para o ano passado, que terminara em fiasco no Brasileirão: “Seja como for, inspirado pelo Loco Abreu, permito-me um momento de otimismo, assaz raro entre nós botafoguenses: 2011 promete ser um ano melhor.”

O otimismo não compensa. O ano de 2011 foi catastrófico. Nenhuma meta foi alcançada. O time desistiu precocemente — em alguns casos, muito precocemente — dos títulos do Estadual, da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana e do Brasileirão. No meio da temporada, a diretoria fez um tácito mea-culpa. Desfez- se de pencas de cabeças de área, contratou três meias de qualidade, renovou nossas esperanças no Brasileirão e sobrou-nos… “Desilusão, desilusão/ Danço eu, dança você/ Na dança da solidão” (música do grande vascaíno Paulinho da Viola, na versão da alvinegra Marisa Monte).

Os dois últimos campeonatos brasileiros foram frustrantes para nós. No do ano passado, o Botafogo chegou à última rodada sonhando com uma vaga na Libertadores. Para isso, tinha de vencer o Grêmio, em Porto Alegre. Contudo, o então técnico Joel Santana escalou um meio-campo só de volantes, entregando a camisa 10 a Somália. Tomamos de três. E foi pouco. Terminamos o Brasileirão em sexto lugar.

Este ano foi pior, porque tínhamos uma equipe melhor. Terminamos em nono, depois de enfileirar cinco derrotas nas últimas seis rodadas. E, apesar de manifestações até tímidas da torcida, tivemos de ouvir o lateral-direito Alessandro reclamando: “Protesto nessa hora mais atrapalha do que ajuda.” Sigam o seu raciocínio. Se ninguém tem o que protestar na hora das vitórias e se protestar na hora das derrotas mais atrapalha do que ajuda, protestar para quê? Deem-lhe vida mansa, ora!

Um amigo meu, rubro-negro, nunca entendeu por que nós botafoguenses temos o hábito de nos besuntarmos com nossas fezes e vagarmos pelas ruas ganindo “ah, o Botafogo, ah, o Botafogo…”. Acha que assim jogamos o time para baixo. Ele não compreende que somos alvinegros nas vitórias e nas derrotas. Todas fazem parte da nossa história e da de mais ninguém. É como o sujeito que senta no bar e enumera as ocasiões em que aquela gostosa desalmada o traiu. A dor faz parte de qualquer paixão.

Outro amigo, outro rubro-negro, diz que o time do Botafogo tem medo de altura. Tem razão. Circunstancialmente, mas tem. Porque, digamos, entre 1957 e 1971, Copa do México incluída, é óbvio, não havia equipe no Brasil para ombrear lá no topo com o Botafogo, exceto a do Santos. Depois, entre 1972 e 1988, o time não sentiu medo de altura porque nunca chegou nem perto dela. No entanto, de 1989 para cá, entre altos e baixos, aí sim, o Alvinegro amarelou em vários momentos decisivos.

Não há, porém, obscuras razões psicológicas para isso, como acreditava até o defenestrado técnico Caio Jr., lavando as mãos. Em 2011, quatro motivos bem práticos tiraram o time da briga — já nem digo pelo título — em torno da zona de classificação pela Libertadores. A começar pelo próprio Caio Jr., de invenções e opções equivocadas e de um histórico de não conseguir segurar seus (bons) times em retas finais.

Consta ainda que haveria um racha no elenco: entre Loco Abreu e todos os outros. Ah, agora entendi por que o Alessandro nunca acertou um cruzamento na cabeça do uruguaio… Era de propósito! Sério agora. Outro racha, ou ao menos ciuminho, que detectei no campo foi entre os meias Elkeson e Maicosuel, que, como dizia um amigo alvinegro de Brasília, parecem nunca ter sido apresentados para tabelar.

Tecnicamente, Elkeson perdeu o foco depois de ser convocado para o banco do Mano Menezes. Já Maicosuel transformou-se numa nova “enceradeira”. Roda, roda e não sai do lugar. Atuou bem contra o Fluminense, na derradeira rodada, vá entender. Eles e o lateral esquerdo Cortês, que jogou o bastante na primeira metade do Brasileirão para ainda conseguir ser eleito o melhor na posição ao final do certame, terão muito a provar em 2012: se são bons jogadores que viveram uma má fase ou o contrário.

Por fim, claro que a maior parcela de culpa é da diretoria. Se sanou o vazio criativo no meio, contratando o próprio Elkeson, Renato e, sim, Felipe Menezes, ela não deu ao elenco opções na defesa e no ataque. Além disso, descobriu tarde demais que Caio Jr. não era um técnico “de ponta”, o que quer sanar em 2012, com a contratação de Oswaldo de Oliveira. Só espero que, ao final da nova temporada, a diretoria não se toque de que deveria ter contratado também um gerente de futebol “de ponta”.

***

E vocês, concordam com a reflexão do Dapieve?

A barca alvinegra: Quem vai e quem fica

Enquanto a diretoria enrola a gente, o FogoEterno oferece gratuitamente um serviço de consultoria e elabora a relação com os passageiros da barca que deve zarpar de General Severiano nos próximos dias – e quem deveria permanecer em terra firme. Eis a lista de passageiros, tripulantes e sobreviventes:

Jefferson – Se for mesmo para o futebol inglês ou para o Corinthians, teremos o maior dos baques para 2012. As falhas nos últimos jogos, e que nem foram tão graves assim comparadas com outros goleiros (Prass, Cavalieri), devem ser debitadas à extrema fragilidade que virou a defesa alvinegra na reta final. Se tivesse que ficar com apenas um jogador para 2012, seria ele. Na fase atual, é insubstituível.

Lucas – Não correspondeu nos jogos mais importantes. Irregular no apoio, muito mal na marcação. Cria do Figueirense, merece voltar a comer ostras em Floripa. Barca nele.

Alessandro – Chega. Por uma questão de antiguidade e pelo conjunto da obra, merece ir na cabine do comandante da barca. E vibrando a cada vez que a embarcação superar uma onda.

Antônio Carlos – O melhor da zaga. Deve ficar. Precisa de um novo colega, mais jovem e mais rápido, para dividir a responsabilidade.

Fábio Ferreira – Nunca foi um grande zagueiro, pra dizer o mínimo – que o digam os torcedores do Corinthians. A surpresa foi ele ir tão bem ao chegar ao Botafogo. Agora voltou ao patamar de mediano para fraco que marcou a sua carreira. Um dos primeiros a ganhar o tíquete da barca, com direito a uma passada no salão para tosar o ridículo topete.

Cortês – Com o devido acompanhamento, deve ficar. Mas precisa treinar posicionamento defensivo – tem o Carioca inteiro para ver se aprende alguma coisa.

Márcio Azevedo – Ainda está em General Severiano? Se estiver, barca nele.

Marcelo Mattos – Bom turno, mal no returno. Abatimento emocional o prejudicou na reta final. Mas pode melhorar. Deve permanecer.

Renato – Mesmo com a queda de rendimento, ainda pode ser considerado a grande contratação do ano – basta lembrar o passe genial que deu para o Elkeson, no comecinho da goleada sofrida para o Galo. Do ponto de vista emocional, uma esfinge; às vezes, parece alheio ao pulso da partida. Precisa de um meio de campo mais técnico para mostrar o fino que, percebe-se, tem capacidade de jogar. Mas será que, já em fim de carreira, dará conta de uma temporada inteira em alto nível?

Maicosuel – Diretoria e torcida o transformamos em um craque que só demonstrou lampejos de ser em dois ou três jogos decisivos pelo Estadual/2009 – basta lembrar o que pensam palmeirenses e cruzeirenses sobre ele, e a incredulidade de ambos ao tratamento vip que recebe em General Severiano. De toda forma, me parece mais vítima do que algoz. Fica, mas precisa encontrar um novo posicionamento em campo e sem obrigação de carregar o time nas costas. E, claro, tem que parar com a mania de tentar passar por dentro dos adversários – não deu certo em 2011, não vai funcionar também em 2012.

Elkeson – É necessário um acompanhamento psicológico e marcação cerrada em um garoto bom de bola mas que obviamente se deslumbrou e não soube lidar com o sucesso. Diria que, pela quantidade de gols perdidos nos últimos seis jogos, é o maior responsável pelo virtual sumiço da vaga da Libertadores. Mas ainda acho que, pela capacidade de definição demonstrada no primeiro turno, se trata de um talento a ser trabalhado.

Herrera – Muita garra, muita vontade, muito espírito de luta, muitos cartões amarelos. Mas futebol em 2011, zero. Barca para Buenos Aires.

Loco Abreu – Nos últimos jogos, decepcionou ao deitar-se no berço esplêndido de ídolo e demonstrar um inesperado lado conformista. Fica, mas não pode ser a única referência do ataque – e, não o time não pode jogar o tempo inteiro em função dele.

Caio – Um curioso caso de revelação-Porcina: acha que foi ídolo sem nunca ter sido. O tempo passou e ele, com a eterna cara de menino mimado e contrariado, precisa encontrar outro rumo. Barca nele.

Felipe Menezzes – É forçoso reconhecer que tem algum talento, chuta bem de fora de área. Mas sua indolência e lentidão irritam a torcida e contaminam o time. Barca de volta para Lisboa.

Alexandre Oliveira – Tem vaga certa. No time de showbol. Barca para a casa do Caio Júnior.

Everton – Mostrou que é bem leve para flutuar. Para bem longe de General Severiano. Barca para a Gávea.

Cidinho, Alex e Lucas Zen – Merecem mais chances. O Carioca é um bom campeonato para testá-los para ver se aguentarão o Brasileirão ou se precisam ser emprestados para ganhar mais cancha.

Somália, Gustavo, Léo, Thiago Galhardo – Desperdiçaram as chances que tiveram. Barca para todos.

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E vocês, incluiriam mais alguém nessa barca, além, claro do gerente de futebol Anderson Barros, responsável pelas contratações acima?

 

Leitura recomendada

Já que o Muricy e a CBF fizeram a “gentileza” de tirar nosso time da rodada do fim de semana (como se o Botafogo não tivesse ficado um mês sem três jogadores – Loco, Arevalo e Jefferson – durante a Copa América), deixo-vos com a leitura de um texto do Lédio Carmona, comentarista do SporTV, sobre o atual momento do Botafogo, publicado na edição desse sábado do jornal Extra.

Bom fim-de-semana e boa rodada para nós!

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Botafogo-2011 já é um sucesso

Lédio Carmona

A escala é clara, linear e parece não ter limite. Há pelo menos seis anos o Botafogo dá sinais claros de evolução, maturidade e boa administração. Chegou em cinco finais seguidas do Estadual – ganhou duas. Ano passado disputou a última rodada do Brasileiro com possibilidade de voltar à Libertadores, algo que não acontece desde 1996. Agora, briga pelo título nacional. E, mais ainda, o time melhora e se reforça a cada ano.

Há pouco tempo, era quase um milagre ver uma estrela pensando em jogar pelo Botafoog. Hoje, o time tem goleiro de seleção, repatriou Renato, mantém Loco Abreu, esnoba com Elkeson e quase contratou Diego, ex-Santos. Em algum dia do século XXI, o Botafogo voltou a se respeitar. Foi a senha para que todos o respeitem. Deixou de ser apenas história para ser mais uma vez dono de realidade vencedora, orgulho de uma torcida sofrida, mas que nunca deixou de acreditar.

Não dá para dizer se o Botafogo será campeão brasileiro. Nem se voltará à Libertadores. Mas é legítimo e verdadeiro bancar que o hoje é o time que melhor futebol apresenta no campeonato. Ganhou do São Paulo no Morumbi. Do Santos. Do Fluminense. Do Galo. Do Cruzeiro. Goleou Vasco e Palmeiras. E, sob direção de Caio Júnior, se transformou num dos times mais ousados, corajosos e modernos do país.

Independentemente do resultado final, o Botafogo-2011 já é um sucesso. Todos querem Elkeson. Procura-se com lupa time que tenha volante como Renato. E ídolo como Loco Abreu. Tem estádio, tem planejamento e, principalmente, tem ambição. Vamos deixar de hipocrisia e reconhecer o Botafogo. Há quase dez anos essa revolução está em marcha. É hora de abrir os olhos e enxergar o óbvio.

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E aí, vocês concordam? Em linhas gerais, eu assino embaixo. Mas acho que a avaliação geral é “contaminada” pela boa fase do time; com isso, alguns itens importantes – como a preocupante divulgação de pesquisa que mostra a marca do Botafogo como a menos valorizada entre os 12 grandes clubes do país, atrás inclusive dos grenás – não foram analisados. Sem contar a conflituosa relação entre a atual diretoria e expressiva parte da torcida. Mas não deixa de ser alentador ver o reconhecimento dessa nova fase do Glorioso.

PS: Acréscimo da segunda-feira. Exceção da vitória do São Paulo, a rodada foi excelente para nós. Agora é obrigação lotar o Engenhão na quarta-feira: mas lembrando à torcida e aos jogadores – há uma diferença entre confiança na vitória e a certeza da vitória. Nada de salto alto nem de impaciência, rapaziada.

Onze razões para acreditar… e desconfiar

Onze motivos para acreditar numa campanha forte no returno:

1. Jefferson

2. Os chutes e as arrancadas do Elkeson, a revelação do campeonato

3. Os desarmes e o senso de cobertura do Renato e Marcelo Mattos

4. A regularidade da dupla de zaga titular

5.  O espírito de liderança, a visão de jogo e a frieza decisiva do Loco Abreu

6.  A postura de dono da casa ao jogar no Engenhão, ditando o ritmo da partida

7. Diversas demonstrações – sendo as partidas contra América-MG e Flu os exemplos mais recentes – do poder de reação do time

8. Baixo número de cartões amarelo por jogo – poucos jogadores pendurados

9. Baixíssimo número de cartões vermelhos no primeiro turno – um time mais equilibrado emocionalmente e menos porradeiro

10. Um técnico estudioso, sério e ambicioso: quer um título de expressão

11. Outros adversários diretos  em momentos de irregularidade

Agora, os onze motivos para desconfiar:

1. Ausências do Jefferson para a Seleção Brasileira

2. Contusão do Antonio Carlos (logo agora?)

3. Possibilidade, mesmo remota, da volta do rodízio na lateral direita

4. Rendimento do Maicosuel, ainda uma incógnita

5. Herrera, apesar da raça, tecnicamente abaixo do que se espera de um atacante titular

6. Reservas, exceção do Alex e Lucas Zen, bem distantes dos titulares

7. Possibilidade de ascensão de times com elenco forte mas que ainda não decolaram, como Cruzeiro e Inter

8. Irregularidade do Cortez

9. Desempenho na Sul-Americana (disputar pra valer as duas competições vai desgastar o time, e uma eventual desclassificação pode interferir no Brasileirão)

10. Um técnico ainda inexperiente e inseguro, muito suscetível às pressões da torcida e da mídia

11. Olho gordo

 

Botafogo 2 x 1 fluminense: Uma vitória soberana

Comemoração ideal: adversário assiste, Loco vibra… e Alessandro de colete

Vencer um clássico de virada é mais emocionante, mais aguerrido, mais justo, mais eletrizante. Especialmente quando a vitória é 100% merecida e foi perseguida ao longo de todo o jogo, não ficamos na retranca esperando o erro do adversário, nos apequenando como fazíamos até a troca de treinador.

Elkeson, melhor em campo. Lucas, Maicosuel e Renato, logo atrás. Loco Abreu, um pique sensacional e um passe de gênio para o segundo gol. E, é importante reconhecer, Caio Júnior também trabalhou com muita eficiência. A nota destoante: Cortez, errou 99% do que tentou.

Dominamos boa parte do 1o tempo, mas desperdiçamos as melhores chances – e, graças ao Jefferson numa saída corajosa e precisa nos pés do CaipiFred, não viramos para a segunda etapa em desvantagem.

Na segunda etapa, curiosamente o gol dos grenás acabou nos fazendo bem: pois, apesar do vacilo indesculpável de deixar o FredSaquê subir sozinho em cobrança de escanteio, o gol de empate, assinado pelo Elkeson, veio menos de dois minutos depois – para isso, foi fundamental a participação do Marcio Rozario que não nos decepcionou e nos proporcionou um lance para lembrar o  Marcio Teodoro. Depois foi a vez do Elkeson mostrar mais uma vez que tem uma capacidade impressionante de definir e de nos deixar a dúvida – qual foi a melhor contratação do ano? Ele ou o Renato?

Elke Maravilha/Nós gostamos de você/Elke Maravilha/Faz + 1 pra gente ver…

A pronta reação fez o time acordar de vez e se convencer que era preciso traduzir a vantagem – nas arquibancadas, no comando técnico e na qualidade e dedicação dos jogadores – em gols. E foi o que o Botafogo fez: não apenas na base da “superação, da garra, do coração na ponta da chuteira”: isso não faltou, mas o que sobrou foi bola no pé. Bem organizado taticamente, com Felipe Menezzes fazendo o que se esperava ao substituir o esforço quase nulo do Herrera: segurar a bola e acertar mais o passe, que foi nosso grande problema na partida. E sobre o segundo gol, vale lembrar que apenas três jogadores tocaram na bola. Ela saiu das mãos do Jefferson direto para os pés do Loco que correu como poucas vezes se viu (alô, você, que criticava a lentidão do uruguayo!) e  deu seis toque no balón  até rolar, com precisão milimétrica, para o Lucas ajeitar e chutar – 2×1. Um gol para ver, rever, ver de novo e guardar do lado esquerdo do peito.  E ainda tivemos a chance do terceiro, com o Elkeson mandando um balaço na trave e um chute perigoso do Cidinho. Enfim, batemos o atual campeão brasileiro (dono de uma folha de salário 2 ou 3 vezes maior do que a nossa) com segurança, organização e autoridade.

De Lucas para o Loco: “E ninguém cala/esse nosso amor…”

Foi uma vitória soberana.

Chegamos em definitivo na briga pelas primeiras posições. E chegamos com um time forte, com a efetivação do Lucas como titular e a possibilidade cada vez mais concreta da recuperação do Maicosuel sendo importantes armas daqui para a frente.

Que venha o segundo turno.

PS: Reparem no VT, pela câmera de trás, que o Elkeson faz o gol de empate bem no momento que as bandeiras grenás tremulavam forte no Engenhão.

PS II: A comemoração do Loco Abreu no segundo gol, correndo de braços abertos em direção aos reservas e à comissão técnica, com a torcida vibrando alucinadamente ao fundo, é um daqueles momentos lindos que a gente não vai esquecer tão cedo.

PS III: Repórter do SporTV: “Foi uma vitória da raça, Loco?”. “Não, foi vitória do futebol. Raça todo mundo tem. Pra ganhar clássico tem que ter futebol. E nós estamos fazendo um baita campeonato”. Cada vez mais ídolo dentro e fora de campo.

Fotos: Lancepress

Ausência preocupante

Quer dizer então que ficaremos sem o Loco Abreu por, no mínimo, 10 dias. A contusão no joelho o deixará de fora de três jogos: contra o Inter e dois contra o Galo no Engenhão.

Alguns podem achar que o time vai se beneficiar – e o Alex terá uma chance de ouro de ser titular.

Pois eu me preocupo – e muito. O Loco, mesmo quando joga mal, é uma referência e obriga os zagueiros adversários a ficarem plantados na marcação, com medo de serem surpreendidos. Sem contar outras virtudes: liderança, visão de jogo, presença forte na bola aérea levantada pelo adversário. Não à-toa, técnicos como Felipão gostariam de tê-lo como o camisa 9 dos seus times.

Boa sorte, Alex. Boa sorte, Herrera.

E, Caio Júnior, pelamordeDeus: não me invente, de novo!, o tal do Alexandre Oliveira.

Zagallo: A homenagem e o incômodo

Muitas comemorações e homenagens nessa terça-feira pelos 80 anos do Zagallo, indiscutivelmente o maior vencedor da história do futebol brasileiro.

No Botafogo, Mario Jorge Lobo foi campeão como jogador e como técnico. Merece o nosso respeito – mas, me permitam, acho que havia outros ídolos a serem eternizados em estátuas no Engenhão antes do Velho Lobo.

Aliás, para ser absolutamente franco, não incluo Zagallo entre os meus ídolos alvinegros. Admiro sua história vencedora no clube, mas algumas atitudes pessoais e sua aberta simpatia-quase-amor pelo nosso grande rival me impedem de cultuá-lo.

Reconheço também que a diretoria do Botafogo foi, mais uma vez, muito sagaz do ponto de vista do marketing ao levar o aniversariante para dar o pontapé inicial do clássico de domingo.  Ganhou mídia (a imagem dos dois cultuadores do número 13 foi parar até no site da Fifa), despertou simpatia, fez muita gente boa dizer que o “Botafogo é o clube brasileiro que melhor trata os seus ídolos”, tudo certo.

Só que tem uma coisinha me incomodando desde o domingo – e que, na euforia pós-goleada, preferi deixar quieto até agora.

E nem me refiro ao fato de, na minha ordem de grandeza, não achar certo  que o Zagallo ganhe estátua antes do Didi, Paulo Cesar Caju, Heleno de Freitas, Mendonça, Maurício e Túlio Maravilha.  Ok, a ideia é homenageá-lo em vida. Mas essa ordem é perfeitamente discutível e, entendo, os títulos do Zagallo com a camisa ou no banco do Glorioso são um poderoso argumento.

Mas o que me incomoda, de verdade, é a diretoria se apropriar inteiramente de uma ação (a confecção e instalação de estátuas do lado de fora do Engenhão)  que nasceu da TORCIDA e foi financiada pela TORCIDA. Muitos, inclusive, que não tinham dinheiro para comprar uma cota ajudavam como podiam, às vezes dividindo uma cota com outros alvinegros. Tudo ocorreu de uma forma muito organizada, espontânea, desinteressada – o único interesse era homenagear a história do Botafogo.

Esses torcedores agora pensaremos duas vezes antes de ajudar a fazer as próximas estátuas: se a diretoria tem dinheiro para confeccioná-las e passa a usar a escolha dos homenageados de acordo com a conveniência do marketing, a inciativa perde a espontaneidade. Essa apropriação de um feito da torcida me soou desrespeitosa e, como no episódio da pintura das cadeiras vermelhas do estádio (as mesmas que, por uma questão de estatuto, não poderiam ser pintadas de preto e branco, teriam que ficar azuis até o fim dos tempos, segundo dizia a diretoria), mostra que muitas decisões da diretoria são tomadas na base da conveniência – e não da coerência.

Fazer cortesia com o chapéu alheio, e sem ao menos dar o crédito merecido a quem teve a iniciativa e a fez existir, não dá.

Cruzeiro 0 x 1 Botafogo: Ele voltou

Fim de jogo na Arena do Jacaré: Loco Abreu 1 x 0 Papai Joel.

O artilheiro voltou e deu dois chutes a gol, especialmente dedicados àqueles que acham que ele só é perigoso nas bolas altas, dentro da área: no primeiro chute, já no segundo tempo, fez um golaço. No segundo, quase faz um gol ainda mais bonito. Precisão e frieza na hora de concluir – era o que estava faltando. Mas o Loco fez um pouco mais do que isso: cortou uns cinco escanteios – foi o nosso terceiro zagueiro. E, claro, devolveu ao time a personalidade vencedora.

No primeiro tempo da partida, fizemos um jogo de razoável para bom. Com tranquilidade, fomos tomando conta do campo à medida que o tempo passava. Mas faltava, claro, mais agressividade na conclusão. Duas boas jogadas com a participação de Elkeson não foram suficientes para balançar as redes. Os melhores eram Marcelo Mattos e Cortez, e Jefferson fez uma grande defesa, providencial, na única bola realmente perigosa que o Montillo conseguiu criar.

No segundo tempo, fez-se a luz. A estrela do Loco brilhou e, após o gol, o time foi soberano até os 30min do segundo tempo. Caio Junior, porém, resolveu dar emoção à partida e nos deixar com 10 jogadores em campo: tirou Elkeson (uma partida apenas regular) entrou o Felipe Menezzzzes, sonolento e disperso, que, se tinha a missão de aumentar a posse de bola, falhou clamorosamente no seu objetivo.

Mas o Cruzeiro, nesse instante, foi vítima da fórmula do Joel: não sabia atacar de forma perigosa. E aí cresceu o futebol do Marcelo Mattos, Renato e Gustavo, responsáveis pelos desarmes mais importante. Até o Maicosuel ajudou a marcar e fazer passar o tempo (mas ainda ficou devendo do ponto de vista técnico).

Vitória importante para dar confiança ao time e à torcida. Mas, sem querer ser chato, vale lembrar que foi a vitória em cima de um time errático e desordenado, mal escalado e mal orientado. Bem, isso é problema dos Smurfs mineiros. Os azuizinhos ainda vão penar muito por conta da escolha do Papai Joel – e pensar que a torcida alvinegra foi bombardeada por boa parte dos comentaristas por ter exigido a saída do Santana… Francamente.

Caio Júnior, via Twitter, falou da vitória de um “novo Botafogo”. Nem tanto, professor, mas vai ficar mais fácil se o senhor parar de insistir com essas invenções de teor suspeito, como Alexandre O. e Felipe Z. Quanto ao time titular, acho que é esse mesmo – e tenho dúvidas se o Lucas vai render mais do que o Alessandro (que fez uma boa partida nesse sábado, não dá para deixar de registrar). Acho que vale inclusive deixar o Gustavo no lugar do Fábio Ferreira – mais preocupado com penteados esdrúxulos do que com o futebol, assim o antigo titular ganha mais tempo para ir ao salão.

PS: Um amigo alvinegro me ligou depois do jogo e falou que o lance do gol alvinegro lembrou o quarto gol do Brasil na Copa 1970 – passe de Pelé/chutaço do Capita; passe de Alessandro/chutaço do Abreu. E o pior é que eu entendi direitinho o que ele quis dizer. Isso é ser Botafogo: sempre nos extremos – da depressão e da euforia.

E deixo todos com um desejo de um ótimo domingo, ao som de uma música antiga, que diz mais ou menos assim no refrão: “Eu voltei/Agora pra ficar/Porque aqui é o meu lugar/Eu voltei/Pras coisas que eu deixei…”.

Bem-vindo de volta, Sebastian Abreu.