Uma reflexão contundente

Perdoem a falta de atualização do blog. Um desânimo bateu neste que vos escreve – e me faz refletir sobre o que será do nosso amanhã, e como não se abater novamente com sonhos desfeitos e expectativas frustradas. Até gostei da contratação do Oswaldo de Oliveira, acho que o Botafogo precisa nesse momento de um técnico experiente e ponderado – só não pode ser excessivamente ponderado, é preciso agitar a água parada e turva que empoçou no Engenhão. Mas não me animo nem me atrevo a fazer prognósticos em relação ao desempenho de treinadores, ainda mais sobre um que está há 5 anos afastado do cotidiano do futebol brasileiro. Enquanto vou ruminando amargura por aqui, deixo-vos com a leitura do contundente artigo “Desilusão, desilusão”, do escritor alvinegro Arthur Dapieve, publicado no Segundo Caderno de O Globo dessa sexta-feira. Leitura obrigatória – dentro e fora de General Severiano.

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“Desilusão, desilusão”

por Arthur Dapieve

flamengo, campeão brasileiro de 2009. fluminense, campeão brasileiro de 2010. vasco, campeão da Copa do Brasil de 2011. Os três classificados para a Libertadores da América de 2012. Botafogo… Botafogo… Hum, bem, campeão carioca de 2010.

Sejamos francos. Títulos estaduais hoje só contam para a estatística de quem os conquistou. Pouco representam em termos futebolísticos, quando os quatro grandes clubes invariavelmente triunfam sobre dois médios depauperados (América e Bangu, que têm brilhante história) e uma multidão de pequenos semiprofissionais do interior.

Como botafoguense, claro que valorizei o título de 2010. Cheguei ao exagero de escrever, ao pé do meu balanço alvinegro para o ano passado, que terminara em fiasco no Brasileirão: “Seja como for, inspirado pelo Loco Abreu, permito-me um momento de otimismo, assaz raro entre nós botafoguenses: 2011 promete ser um ano melhor.”

O otimismo não compensa. O ano de 2011 foi catastrófico. Nenhuma meta foi alcançada. O time desistiu precocemente — em alguns casos, muito precocemente — dos títulos do Estadual, da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana e do Brasileirão. No meio da temporada, a diretoria fez um tácito mea-culpa. Desfez- se de pencas de cabeças de área, contratou três meias de qualidade, renovou nossas esperanças no Brasileirão e sobrou-nos… “Desilusão, desilusão/ Danço eu, dança você/ Na dança da solidão” (música do grande vascaíno Paulinho da Viola, na versão da alvinegra Marisa Monte).

Os dois últimos campeonatos brasileiros foram frustrantes para nós. No do ano passado, o Botafogo chegou à última rodada sonhando com uma vaga na Libertadores. Para isso, tinha de vencer o Grêmio, em Porto Alegre. Contudo, o então técnico Joel Santana escalou um meio-campo só de volantes, entregando a camisa 10 a Somália. Tomamos de três. E foi pouco. Terminamos o Brasileirão em sexto lugar.

Este ano foi pior, porque tínhamos uma equipe melhor. Terminamos em nono, depois de enfileirar cinco derrotas nas últimas seis rodadas. E, apesar de manifestações até tímidas da torcida, tivemos de ouvir o lateral-direito Alessandro reclamando: “Protesto nessa hora mais atrapalha do que ajuda.” Sigam o seu raciocínio. Se ninguém tem o que protestar na hora das vitórias e se protestar na hora das derrotas mais atrapalha do que ajuda, protestar para quê? Deem-lhe vida mansa, ora!

Um amigo meu, rubro-negro, nunca entendeu por que nós botafoguenses temos o hábito de nos besuntarmos com nossas fezes e vagarmos pelas ruas ganindo “ah, o Botafogo, ah, o Botafogo…”. Acha que assim jogamos o time para baixo. Ele não compreende que somos alvinegros nas vitórias e nas derrotas. Todas fazem parte da nossa história e da de mais ninguém. É como o sujeito que senta no bar e enumera as ocasiões em que aquela gostosa desalmada o traiu. A dor faz parte de qualquer paixão.

Outro amigo, outro rubro-negro, diz que o time do Botafogo tem medo de altura. Tem razão. Circunstancialmente, mas tem. Porque, digamos, entre 1957 e 1971, Copa do México incluída, é óbvio, não havia equipe no Brasil para ombrear lá no topo com o Botafogo, exceto a do Santos. Depois, entre 1972 e 1988, o time não sentiu medo de altura porque nunca chegou nem perto dela. No entanto, de 1989 para cá, entre altos e baixos, aí sim, o Alvinegro amarelou em vários momentos decisivos.

Não há, porém, obscuras razões psicológicas para isso, como acreditava até o defenestrado técnico Caio Jr., lavando as mãos. Em 2011, quatro motivos bem práticos tiraram o time da briga — já nem digo pelo título — em torno da zona de classificação pela Libertadores. A começar pelo próprio Caio Jr., de invenções e opções equivocadas e de um histórico de não conseguir segurar seus (bons) times em retas finais.

Consta ainda que haveria um racha no elenco: entre Loco Abreu e todos os outros. Ah, agora entendi por que o Alessandro nunca acertou um cruzamento na cabeça do uruguaio… Era de propósito! Sério agora. Outro racha, ou ao menos ciuminho, que detectei no campo foi entre os meias Elkeson e Maicosuel, que, como dizia um amigo alvinegro de Brasília, parecem nunca ter sido apresentados para tabelar.

Tecnicamente, Elkeson perdeu o foco depois de ser convocado para o banco do Mano Menezes. Já Maicosuel transformou-se numa nova “enceradeira”. Roda, roda e não sai do lugar. Atuou bem contra o Fluminense, na derradeira rodada, vá entender. Eles e o lateral esquerdo Cortês, que jogou o bastante na primeira metade do Brasileirão para ainda conseguir ser eleito o melhor na posição ao final do certame, terão muito a provar em 2012: se são bons jogadores que viveram uma má fase ou o contrário.

Por fim, claro que a maior parcela de culpa é da diretoria. Se sanou o vazio criativo no meio, contratando o próprio Elkeson, Renato e, sim, Felipe Menezes, ela não deu ao elenco opções na defesa e no ataque. Além disso, descobriu tarde demais que Caio Jr. não era um técnico “de ponta”, o que quer sanar em 2012, com a contratação de Oswaldo de Oliveira. Só espero que, ao final da nova temporada, a diretoria não se toque de que deveria ter contratado também um gerente de futebol “de ponta”.

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E vocês, concordam com a reflexão do Dapieve?

12 Respostas para “Uma reflexão contundente

  1. Companheiros, de uns tempos para cá em relação ao Botafogo aprendi a ser um pouco mais realista. Até porque realmente há coisas que somente acontecem com a gente. Mas como já comente através de vários meios, inclusive aqui, depois da vitória sobre o Corinthians, olhando os jogos restantes, abri a janela do meu quarto e gritei “TRICAMPEÃO !!!”. Otimismo em um momento de fraqueza e depois foram tão somente decepções.
    Lendo o Artigo do Dapieve veio-me outra vez essa lembrança e o terrível medo de que um dos amigos dele afirmasse algo semelhante ao que me foi dito por um tricolor: “Botafoguense é aquele que não tem capacidade para ser Fluminense mas que tem vergonha de torcer para o Flamengo.”
    Realmente 2011 é um ano para NÃO ser esquecido.
    Abraços,

    Luis Celso

  2. SIm. concordo. E , resumindo: o pessimismo dos torcedores, que alguns chamam de realismo, vem sendo implantando pela diretoria; a gente gosta de ser traido; temos medo de altura e, como golfinhos, subimos , fazemos uma graça e depois afundamos. 2011 foi muito triste, mas no fundo, a gente ja sabia, ja esperava e acreditava que ainda tinha chance. É o contraditorio de ser botafoguense.

  3. Excelente artigo.

    O Dapieve tem melhor leitura de jogo do que o Caio Jr, melhor visão futebolística que 90% da imprensa especializada e melhor discernimento que o Maurício Assumpção. Mas, convenhamos, pra atingir esse patamar ele não precisou nem de um pulinho.

    Nosso imenso problema é que a diretoria não vai se tocar “de que deveria ter contratado também um gerente de futebol ‘de ponta’”.

    Saudações botafoguenses!

  4. O principal diferencial positivo para o Botafogo ao meu ver não é o melhor ou pior trinador, o principal diferencial é fazer com que os torcedores pobres e fudidos da favela sejam recebidos e prestigiados como gente fina no nosso Engenhão, porque eles são os donos do nosso futebol desde a geral do Maracanã. Sugiro que nossos inteligentes administradores coloquem ingressos em promoções, ingressos a preços populares, e que os portões sejam abertos gratuitamente no mínimo duas vêzes por mês a partir do carioca 2012 para ajudar o torcedor a aprender frequentar o Estádio. É extremamente necessário popularizar o Engenhão para que o Botafogo mude a mentalidade do torcedor brasileiro , que nos tacham de time pequeno, e a partir daí passe a nos respeitar mais e mais. Já está orquestrada uma licitção comandada por Eike Batista para gerir entretenimentos, Shoping, CFC, etc, no maraca. Ou seja, um Maracanã multiuso para a elite carioca da zona sul do Rio de Janeiro. Nós somos a bola da vêz para podermos crescer nossa torcida e tornármos mais simpáticos ao povo carioca. A solução do Botafogo será sempre a sua torcida frequentar o Engenhão e exigir bom e excelente time. Vamos caminhar em sentido contrário ao Eike para dominar novos e humildes corações. O Botafogo não ganhou nada em 2011, tivemos a infelicidade de perder tudo, logo, no meu entender esse é um dos caminhos que nos livra da mesmisse e nos possibilita um futuro promissor para amanhã renascer no FUTEBOL BRASILEIRO.

  5. Gostaria que os senhores desse blog, botafoguenses autênticos, levasse adiante essa ideia . Muito grato Deus abençõe.

  6. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
    Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
    se tornar um autor da própria história.
    (Fernando Pessoa)

  7. Afinal de contas, quem é técnico de ponta ?????????????
    Seria interessante trazer o Tite, por R$700.000,00/mês ??? O técnico mais ovacionado como burro do brasileirão/2011.
    Seria interessante trazer o Felipão, Luxemburgo, Jorge Fossati???
    Quando o Autuori assumiu o BFR em 95, o mesmo era aprendiz do aprendiz.

    Notas:
    1) Escolham 03 do Corinthians/2011 p/ serem titulares absolutos no BFR/2011 (Liedson, …………………………………………..);
    2) O único obstáculo que o bacalhau teve p/ chegar as finais da Copa do Brasil, foi o ABC de Natal. Perguntem ao Leandrão (ex-BFR) o critério utilizado. Na final, ganhou o jogo em casa, num jogo de igual com o Coritiba e levou um banho de bola em Curitiba, mas que o fator sorte sorriu p/ o Bacalhau. Na 1ª Briga de Cachorro Grande, na Sul Americana, o bacalhau foi eliminado.
    3) Unanimidade chata da imprensa nacional, no returno do brasileirão/2011, após o jogo contra o Palmeiras: “ O Botafogo é um time muito bem treinado e que fez contratações pontuais”.

    Conclusão da Ópera: O BFR se potencializou sim p/ ser campeão brasileiro 2011. Não foi nenhum delírio visionário. Atingiu uma curva de histerese impressionante. Fica a lição de que se preparares p/ ser campeão, poderás ficar do 1º ao 10º lugar. Agora, se preparares p/ zona da Sul Americana, poderás ficar do 11º ao 20º lugar.
    Saudações Gloriosas.
    Cléto Martins

  8. O comentário do Manoel levanta uma questão que sempre me interessou e passa batida pelo departamento de marketing: por que não usar o Engenhão e seus equipamentos para integrar a imagem do Botafogo ao entorno imediato e à região como um todo?

    Saudações botafoguenses!

  9. Afinal de contas, o dia de nascimento de Cristo, e a gente precisa estar feliz e estar vivendo em harmonia.

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