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A maior defesa de Jefferson

Muito sintomático que o maior ídolo alvinegro no século 21 seja um goleiro.
Um goleiro discreto, nada midiático, sério.
Um goleiro chamado Jefferson.

Em mais de uma década no Botafogo, Jefferson defendeu pênaltis, chutes indefensáveis, cabeceios à queima-roupa, dezenas de lances que a gente só entendia o que ele fez depois de ver o replay.
Jefferson tentou ao máximo ser o que diz nosso hino: ser herói em cada jogo. Inúmeras vezes, mesmo cercado por incompetência e displicência, ele conseguiu.
Em momentos de intensa fragilidade financeira, técnica e até emocional, Jefferson era a estrela solitária a defender a grandeza do Botafogo e a iluminar uma esperança de futuro.
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Foi o que conseguiu ao pegar o pênalti de Adriano em 2010: Loco Abreu já havia feito a sua parte, mas faltava alguém segurar o resultado, garantir o título depois de três derrotas consecutivas na final do Carioca (que, pelo grito atravessado na garganta, foi muito mais do que uma decisão estadual).
Mas aquela não foi a maior defesa do nosso goleiro: ao longo de sua carreira no alvinegro, Jefferson nos defendeu de humilhações, da mediocridade, da indigência, da irrelevância. Permaneceu em General Severiano quando estava mais valorizado, titular da Seleção Brasileira, e no momento mais difícil do time, rebaixado para a Série B.
Poderia ter ido embora, seria compreensível, ainda mais sabendo da dívida milionária do clube com o jogador. Mas ele ficou. Para defender a nossa relevância e o entusiasmo de uma nova geração de alvinegros. Para ser o guardião da Estrela que, enfim, voltou a brilhar.
Sua trajetória e seu exemplo, Jefferson, não se encerram em 2018. Continuam com a gente. E vão, por muito tempo, por tempos eternos, nos conduzir. Como fizeram os grandes ídolos do século 20. Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Heleno de Freitas, Jairzinho, Túlio Maravilha… Agora você está entre eles. Com todo respeito ao Manga, você é o número 1 desse timaço.
Tu és Glorioso, Jefferson.

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Notas de uma despedida

Por Pedro Baptista Oliveira

Algumas notas sobre enterro e o velório de Nilton Santos.
Nilton teve um enterro indigno do que ele foi e representou.
Se o que sucede no velório é o sumário do que foi a vida de alguém, não parece que Nilton Santos foi muita coisa. Se ele é o maior ídolo da nossa história, não parece que o Botafogo é importante.
Vá lá que o mais das pessoas não liguem importância a um jogador aposentado há mais de 50 anos. Os botafoguenses, que nos temos por ciosos das nossa tradições, tínhamos obrigação de fazer da morte do Nilton uma comemoração multitudinária da sua vida. Estávamos sepultando o nosso Maomé, o nosso Santo Graal, não há partida de futebol, não há evento nem título cuja importância se sobreponha ao enterro do nosso maior ídolo.
No período de maior movimento, menos de dois terços do salão ocupados com alguma densidade. Vi menos gente no velório do que costumo ver em dias de eleição ou tardes de autógrafo em General Severiano.
No cortejo que seguia o carro de bombeiro até o cemitério, umas duas dúzias de pessoas, número que foi rareando à medida que o carro acelerava a marcha, contornando o morro do pasmado.
Á beira do sepulcro, havia apenas pouco mais de uma centena de pessoas.
Entende-se que essa torcida, tida por si como de espírito e intelecto superior, deixe de encher dois Maracanãs a cada rodada do campeonato.
Mas não se entende, nem se desculpa, que tão poucas pessoas tenham comparecido ao enterro do nosso maior, o centro de gravidade desse microcosmo chamado Botafogo.

Nota particular, nesse episódio, deve ser dada à oficialidade botafoguense.

Os interesses maiores do Botafogo, na última quinta-feira, não estavam na Suíça, na Dinamarca, ou em Bangladesh. Estavam percorrendo, em quase solidão, as aleias do São João Batista.
Os sócios do clube, aqueles que não puderam comparecer pessoalmente, não estiveram representados, no enterro do Nilton Santos, pelo presidente eleito.

Essa ausência ficará como uma mancha singular, inapagável, na história dos mandatários do Botafogo.

Em tempo: minha esposa percebeu que o Nilton foi enterrado numa sepultura que fica localizada, da perspectiva de quem está de frente para o portal de entrada, na extrema ponta esquerda do cemitério.

***

Obrigado por compartilhar suas impressões e reflexões com os leitores do Fogo Eterno, Pedro. 

Nilton Santos em três atos: Crônica do Pereirão

A última página da Enciclopédia

                                                                             Carlos Pereira

Três passagens inesquecíveis me levam a Nilton Santos que foi se juntar  a Garrincha  e  nos deixou todos  nós, botafoguenses, mais tristes e pesarosos além do futebol brasileiro mais pobre.

A primeira data de 1948 e foi pelo rádio Phillips holandês que meu pai mantinha na sala de estar da modesta casa onde morávamos que ouvi o nome de Santos (naquela época era somente o sobrenome dele que aparecia na escalação) fazer parte do time  campeão carioca: Osvaldo, Gerson e Santos;Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otávio e Braguinha,  que só não foi campeão invicto porque perdeu na primeira rodada para o São Cristóvão e de 4×0. No  resto passou por cima como se fosse um trator – deu no Vasco, no flamengo, no Fluminense, no América, no Bangu, no Bonsucesso, Madureira, Canto do Rio  e no Olaria. Tinha eu, então, 10 anos e a partir daí se iniciou uma história de amor, paixão, alegria, desilusões, sentimentos intensos – tudo por causa do Botafogo de Futebol  e Regatas.

A segunda aconteceu em 1959, quando concluinte do curso médio no Liceu Paraibano a nossa turma foi contemplada com uma viagem a Minas Gerais, patrocinada pelo então Governador Bias Fortes. De navio de João Pessoa para o Rio, de ônibus do Rio para Belo Horizonte e na volta pelo Rio, o prazer de ver, pela primeira vez, bem de perto, no estadinho de General Severiano, Newton Santos (já com o nome e ainda em inglês) ao lado de Garrincha enfiar uma goleada num dos times pequenos do campeonato carioca – não lembro qual…

A terceira e mais marcante foi a honra que ele me concedeu de fazer a apresentação do seu livro “Minha bola, minha vida”, no dia 30 de outubro de 1998, aqui em João Pessoa numa sala especial do Hotel Tambaú, lotada de botafoguenses e até torcedores de outros clubes, admiradores do futebol daquele que Nelson Rodrigues denominou de “enciclopédia”.

Agora, quando escrevinho estas linhas, me encho de emoção ao ler a sua dedicatória no livro que guardo como verdadeira relíquia: “Ao botafoguense Carlos Pereira, com forte abraço do Nilton Santos”, o  Nilton em bom português.

E ao relembrar tudo isso, choro pelo que o futebol brasileiro perdeu quando Nilton Santos deixou de jogar – ele sim, era craque na acepção melhor que o termo pode contemplar.

E só me resta dizer: Foi escrita a última página e a enciclopédia se  fechou para sempre. Nunca mais haverá um jogador como Santos, Newton ou Nilton.

O céu ganhou mais uma estrela solitária e o Glorioso se quedou mais triste…

Carlos Pereira é jornalista, pai e avô de duas gerações de alvinegros

Uma data muito especial

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Hoje ele faz 88 anos.

Parabéns, Nilton Santos, mais do que um jogador, um craque.

Mais do que um ídolo, um exemplo.

Mais do que um exemplo, uma Enciclopédia do futebol.

Nilton Santos: O homem que ilumina a Estrela.

 

Teste: Que tipo de botafoguense você é?

O FogoEterno dá um tempo no noticiário e quer saber: como anda o seu nível de botafoguismo? A paixão continua intacta ou você ficou com peninha do Alessandro depois que ele anunciou que vai embora no fim do ano?

Em 13 questões, teste o seu sentimento alvinegro e confira que tipo de torcedor você é. Vamos às perguntas e marque apenas uma das alternativas:

1. No Hino do Botafogo, como você canta a parte que vem depois dos versos “Não podes perder, perder pra ninguém”…

a) Tã-nan-nan-nan,nan-nan-nan…

b) Noutros estádios tua filha é nossa gente

c) Noutros esportes tua fibra está presente

d) Nessa hora estou ocupado xingando o juiz e a torcida adversária

2. Você está numa festa e o DJ toca “País tropical”. Todos os convidados cantam a letra inteira, na maior animação. Você:

a) Canta também, claro. Algum problema?

b) Baixa a voz e só assovia a parte que diz:  “Sou Flamengo e tenho uma nega chamada Teresa”.

c) Altera a letra e manda:  “Sou Botafogo e tenho uma estrela que é uma beleza”.

d) Não vai a festas que tocam músicas desse flamenguista que fez a música, o Tim Maia.

3) Um de seus colegas do trabalho, que se diz torcedor do Fluminense (ou seja, não liga muuuuito pra futebol), vai casar.  Com meses de antecedência, ele te convida para ser um dos padrinhos. Você abre o convite e vê que a cerimônia será às 19h de sábado, no fim de novembro. Então, você:

a) Aceita na hora, fica honrado com a lembrança e anota na agenda. Quando olha de novo o convite, faltando alguns dias, percebe que a data coincide com um dos últimos jogos do Botafogo pelo Brasileirão.  Mas compromisso assumido é compromisso cumprido. Anota mentalmente de conferir o resultado ao chegar em casa, depois da festa (se não estiver muito cansado).

b) Aceita na hora, mas repassa mentalmente a tabela do Brasileirão e já se programa pra levar um smartphone e conferir, discretamente, o andamento do jogo em tempo real.

c) Repassa a tabela e se dá conta que vai ter jogo no mesmo horário. Então, pede pra confirmar algumas semanas mais à frente: alega que outro amigo, só que este de infância – veja que coincidência – já tinha lhe chamado para ser padrinho e ficaria chato recusar. Enquanto ganha tempo, vai acompanhando a posição do Botafogo na tabela – só irá à igreja se o time estiver em posição intermediária, sem chances de Libertadores nem de ser rebaixado.

d) Não vai a casamentos que não sejam os seus próprios ou de sua(s) esposa(s).

4) Sua tia que mora na Europa chegou de viagem e bem no dia do seu aniversário. Trouxe um presente especial: uma camisa italiana; por baixo, custa uns 100 euros. Mas, ao abrir o embrulho, a surpresa: a camisa, corte impecável, tem apenas duas cores – vermelho e preto. Ela, ansiosa pela sua reação, pede: “Prova, prova!”, coro repetido pelos outros familiares. Qual sua reação?

a) Veste a camisa sem problemas. Afinal, é uma tia querida e não se trata de camisa de clube.

b) Constrangido, veste a camisa e a tira rapidamente. Guarda no fundo do armário, com a seguinte anotação mental: somente usar em viagens para a Nova Zelândia.

c) Agradece, finge um acesso de tosse, deixa a sala e desaparece. No dia seguinte, está na loja filial brasileira da camisaria italiana e troca a camisa por uma mercadoria nacional, mesmo consideravelmente mais barata. Porque você, em nenhuma hipótese, veste vermelho e preto.

d) Entrega para o porteiro e economiza a caixinha de natal durante cinco anos.

5) De quem foram os gols alvinegros, em tempo normal, no empate de 2×2 com o Peñarol, que nos rendeu o título da Copa Conmebol, em 1993?

a) O que é Conmebol?

b) Suélio e Perivaldo

c) Eliel e Sinval

d) Fahel e Doval

6) Quem foi o último alvinegro a tocar na bola antes de Márcio Rezende encerrar Botafogo 1×1 Santos no segundo jogo da final do Brasileiro de 1995?

a) Túlio Maravilha

b) Waaaaaagner!!!

c) Jamir

d) Montenegro

7) Como você acordou no dia seguinte à eliminação da Copa Sul-Americana após a derrota para o River Plate em 2007?

a) Dormi durante o jogo. Só fui saber do resultado na escola/no trabalho, quando uns colegas começaram a me chamar de “Falcão Garcia” e eu não entendi nada

b) Com muita raiva

c) Não acordei porque não dormi

d)  Com vontade de explodir o mundo

8) Quando o jogo está 2×1 para o Botafogo e o juiz aponta 3 minutos de acréscimo, você:

a) Começa a zoar o torcedor adversário. “Ih, se ferrou! Ganhamos essa!”

b) Liga para outro torcedor alvinegro e analisa : “Acho que ao menos um empate a gente consegue,não dá tempo de perder de virada – ou será que dá?”

c) Destrói até as unhas dos pés. Aprendeu, nos últimos anos e da forma mais sofrida, que 180 segundos são uma eternidade – e invariavelmente desfavorável aos alvinegros

d) Não consegue mais ver os minutos finais das partidas do Botafogo, quanto mais os acréscimos. Desliga a tevê e leva o cachorro pra passear. Durante o trajeto, calcula – pela intensidade dos gritos dos vizinhos – qual foi o resultado final da partida.

9) Qual foi a sua reação depois da última cobrança de pênalti do Uruguay contra Gana, pelas quartas-de-final da Copa 2010?

a) Pôxa, que pena, seria muito bom para o futebol mundial que uma nação africana conquistasse pela primeira vez uma vaga na semifinal…

b) Esse Abreu é corajoso, hein?

c) A cavadinha! O Loco repetiu a cavadinha da final do Carioca! Uh-el Loco!!

d) Onde posso comprar uma camisa da Celeste?

10) Quando os jornais publicam a tabela do Brasileirão, você olha primeiro:

a) Qual vai ser o jogo de abertura, porque as emissoras sempre se preocupam em oferecer o melhor espetáculo. Mas só depois de ler o horóscopo, os indicadores econômicos e o resumo das novelas

b) A tabela do Botafogo, e vai vendo quantos jogos você poderá acompanhar ao vivo,ou pela tevê

c) A tabela do Botafogo. Examina todas as partidas, faz projeção de pontos a serem conquistados. E sonha com uma última rodada com o nosso título e o rebaixamento de nosso maior adversário

d) A tabela do Botafogo. E já corre para os sites das empresas aéreas para calcular quanto custa uma passagem para o local do nosso jogo da última rodada – o time vai precisar de você, pra ser campeão ou pra não cair

11) Qual desses gritos de guerra você se arrepende de ter pronunciado:

a) Não canto gritos de guerra, acho que incentiva a animosidade nos estádios. Aliás, não vou a estádios e só pago PPV se o time estiver bem na tabela.

b) “Uh, tá maneiro, o Dodô é artilheiro!”

c) “Ah, é Alessandrô!”

d) “Não é mole, não; o Botafogo é melhor que a Seleção!”

12) O Brasil resolve disputar um amistoso contra o Botafogo antes do início da Copa 2014. Você:

a) Torce para que vença o melhor, lembrando da importância de a Seleção ganhar ritmo de jogo para alegrar toda uma nação

b) Tenta se manter imparcial, mas, logo nos primeiros minutos da transmissão, percebe que não consegue deixar de torcer pelo Botafogo

c) Quer ganhar de qualquer jeito, nem que seja com dois gols do argentino Herrera e com Antonio Carlos dando uma banda no Neymar

d) Quer que a Seleção vá pra PQP e que o Loco faça gol de pênalti, e de cavadinha, no Júlio César no último minuto da partida

13) Qual dessas loucuras você já fez, ao menos uma vez, pelo Botafogo?

a) Não faço loucuras por um time de futebol. De louco já basta o trânsito da minha cidade, não vou me aborrecer com um esporte que deve servir para distração, não para aborrecimento

b) Comprar uma camisa oficial com o limite do cheque especial já estourado

c) Gravar um jogo que não pôde ver na hora, dar um jeito de não ficar sabendo do resultado e depois vê-lo na íntegra como se fosse ao vivo

d) Combinação dos itens B e C

e) Acrescente aqui a sua loucura

DECIFRANDO O SEU BOTAFOGUISMO

***LETRA A***

Se você a maior parte de suas respostas foi letra A, um aviso doloroso: você até que se esforça, mas não possui a alma alvinegra. Agradecemos a preferência, mas ser botafoguense não é hobby de fim de semana, não é para principiantes. Para não sofrer à toa, recomendo que passe a acompanhar jogos do Barcelona ou do time mais popular do país: Brasil-na-Copa-do-Mundo. Se não curtir, tente a NBA ou torcer pelo Vettel na F-1.

***LETRA B***

Se você marcou um maior número de letra B, parabéns: você é botafoguense. Às vezes troca nome de jogador ou datas, mas o que importa é a força do seu sentimento. E tenho certeza que pode crescer ainda mais, dependendo do rendimento do time a cada ano.

***LETRAS C OU D***

Se você marcou a maior parte de letras C ou D… de formas diferentes, entre o amor, a paixão e mesmo a obsessão, prevalece uma certeza. Você não escolheu o Botafogo; foi o Botafogo quem te escolheu. Bem-vindo ao meu clube. Poucas experiências de vida serão tão intensas. Cuide bem do seu coração – nas jornadas sofridas e também nas histórias gloriosas, você vai precisar dele.

PS: Esse teste é uma homenagem a três locutores que fazem de nossas vitórias ainda mais gloriosas – Januário de Oliveira, Luiz Penido e Evaldo José. Ouvir um gol do Botafogo na voz de um dos três é um dos grandes prazeres da vida.

Frases alvinegras: A Crônica do Pereirão

O Glorioso, cada vez mais

C.Pereira

Neste começo de ano – 2010 parece mudar muito o Botafogo em relação ao ano passado – recolho, não ao acaso, algumas frases de livros que, direta ou indiretamente, falam sobre o Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, “campeão desde 1907” e as passo aos inúmeros botafoguenses que diariamente entram nesta página para saber das novidades do seu clube de coração.

De Sandra Moreyra, na orelha do livro “Nilton Santos, minha bola, minha vida” : Não sou uma jornalista de esportes. Sou uma botafoguense.”

De Armando Nogueira, no prefácio do mesmo livro: “Com o tempo, tornei-me jornalista. Já não podia mais viver o deslumbramento de simples torcedor (do Botafogo). Escrever o prefácio deste livro é apenas a extensão de um privilégio que a vida me concedeu.”

De Paulo Mendes Campos, no seu livro “O gol é necessário”: “O Botafogo é mais abstrato do que concreto; tem folhas-secas; alterna o fervor com a indolência; às vezes, estranhamente, sai de uma derrota feia, mais orgulhoso e mais botafogo do que se houvesse vencido. Enfim, o Botafogo é um tanto tantã. E a insígnia do meu coração é também uma estrela solitária.”

De Lúcio Rangel: “Sabe de uma coisa? Eu não gosto de futebol, gosto é do Botafogo”.

De Mário Filho: “Não há clube de mais sensibilidade à flor da pele, com mais orgulho de Grande de Espanha do que o Botafogo.”

De Armando Nogueira: “Botafogo é bem mais que um clube – é uma predestinação celestial.”

De Nelson Rodrigues: “O Botafogo é o clube mais passional, mais siciliano, mais calabrês do futebol brasileiro.”

De Vinicius de Moraes: “ No Rio, a formação da identidade passa, também, pela eleição de um time de futebol. O poeta, fiel à sua infância, escolhe o Botafogo. Não freqüenta os estádios. Não lê o noticiário esportivo. Não ouve as transmissões pelo rádio. Mas, se perguntam seu time, afirma: “Botafogo”.Não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania.”

De C.Pereira ( O Pereirão) : “Paixão da minha vida desde que me entendi de gente, o Glorioso de General Severiano, o querido Botafogo de Futebol e Regatas, é uma das razões do meu existir. Por ele, até morrer, me alegrarei nas vitórias e chorarei suas derrotas. Esse amor é eterno”.

C.Pereira é jornalista e alvinegro, não necessariamente nessa ordem

Eles passarão. Ele permanecerá

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André Luis na cabeça! E, agora, uma pergunta difícil…

Que a truculenta tenente Lúcia Helena da PM pernambucana não nos leia, muito menos o árbitro do jogo contra o Estudiantes no Engenhão pela Sul-Americana do ano passado…mas, entre os leitores do FogoEterno, quem mandou bem foi o André Luis!

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Na enquete encerrada nessa quinta-feira, nosso ex-zagueiro, atualmente sem clube, venceu com 30% dos votos. A pergunta era em relação ao elenco de 2008: qual dos jogadores do ano passado seria um bom reforço para 2009? A vitória de A.Luis, na minha avaliação, não se deve apenas às (nada excepcionais) virtudes do zagueiro, mas também ao fato de que o torcedor alvinegro não é cego e percebeu, logo nas primeiras partidas da Taça Guanabara, que o sistema defensivo é o principal problema do Botafogo 2009.

Na segunda colocação, uma demonstração de confiança no novo elenco (ou melhor, de desconfiança e de desilusão no elenco anterior…), com 20% de votos para a opção “Não,obrigado”. Ou seja, nada de antigos fantasmas para assombrar General Severiano – basta os que já temos…

Em terceiro lugar, o jogador diferenciado, “para o bem e para o mal”: sim, Lúcio Flávio! Também debito parte desses votos à dificuldade que o atual time demonstra na armação de jogadas e  na condução da bola do meio até o ataque.

Pelo mesmo critério, além da disposição e da raça inexistentes no jogador citado anteriormente, entendo a colocação de Carlos Alberto em quarto lugar, com 10% dos sufrágios.

Na sequência, ficaram Renato Silva (9%), Túlio (7%) e Diguinho (6%). Jorge Henrique teve 1% de votos e Wellington Paulista, zero. Ou seja, o ataque não parece ser problema para os nossos leitores – ou é o menor dos problemas, o que tendo a concordar.

Enfim, quero deixar registrada a lembrança do eleitor solitário que sentiu falta da dupla de pesos-pesados Zárate e Escalada, e sapecou um voto para os argentinos!

Bom, obrigado a todos que participaram da votação e agora, conforme prometido, uma enquete para abalar as estruturas de General Severiano.

Qual é o jogador do Botafogo que você mais idolatra?

Pergunta “fácil”, não? Percebam a sutileza – a ideia não é eleger o maior ídolo da história do Botafogo, mas o jogador que você mais gosta, que você mais admira, que você idolatra incondicionalmente, enfim, aquele com o qual você mais se identifica. E, graças a São Carlito Rocha, no caso do Botafogo, um clube que REALMENTE tem MUITOS ídolos por possuir uma GLORIOSA HISTÓRIA, essa escolha é particularmente difícil. Se fosse em outros times, acho que nem haveria opções na enquete…

Valendo!

Páginas alvinegras: O conselho do João Saldanha

” Quando João chegou ao clube, o Botafogo era treinado pelo experiente Zezé Moreira. Este, porém, estava desgastado após o fraco desempenho no campeonato de 1956, em que o time ficou apenas com o terceiro lugar. Era necessário fazer mudanças profundas também no elenco.
Nilton Santos tinha um futebol clássico, de “toques finos”, e não apelava para a violência. Jogou mais de dezessete anos e só usou duas camisas: a alvinegra do Botafogo e a amarela da Seleção. Na inteligência e serenidade de Nilton, João tinha importante apoio dentro de campo. Quando alguma situação se complicava, João pegava Nilton, subia para as arquibancadas, pedia a opinião do jogador e debatia com ele as suas.
Conhecido como a Enciclopédia do Futebol, o lateral conta que João lançou um lema: Quem não é o maior tem que ser o melhor. E saiu à caça de nomes para reforçar o plantel.”

Trecho de João Saldanha – Uma Vida em Jogo, de André Iki Siqueira (Companhia Editora Nacional, 552 páginas)

O monumental trabalho de pesquisa rendeu ao autor não só um documentário ainda não lançado em DVD, mas um livro obrigatório para quem deseja conhecer a trajetória de João Saldanha. Ilustrado com muitas fotos raras e clássicas, trata-se de uma boa dica de presente de Natal para alvinegros. E o trecho escolhido pelo FogoEterno é uma tentativa de iluminar a cabeça de nossos dirigentes nas próximas contratações, seguindo a máxima de Saldanha: Quem não é o maior tem que ser o melhor!

Páginas alvinegras: As quatro estrelas de 1958

                                 

“Estavam juntos quatro dos maiores jogadores da história do futebol. Didi jogava com a cabeça em pé, sem olhar para a bola e com grande elegância. Cada passe com a parte externa do pé era uma obra de arte.

Garrincha bailava em campo. Balançava o corpo, deixava o marcador paralisado e saía pela direita.

Nilton Santos antevia o passe, antecipava e desarmava sem tocar no atacante.

Pelé raciocinava mais rápido que um megacomputador. Antes de a bola chegar aos seus pés, calculava a velocidade dos companheiros, dos adversários, da bola e a relação do espaço com o tempo. Achava sempre o espaço mais curto para o gol.”

 Tostão, na edição de domingo da Folha de S.Paulo, depois de ver – na íntegra, não os compactos – das duas últimas partidas do Brasil em 1958.

E, desnecessário lembrar, três dos quatro jogadores citados pelo melhor comentarista de futebol da atualidade carregavam a Estrela Solitária no peito.

Que saudade de tudo que eu não vi…

 

  

Páginas Alvinegras – Estrela Solitária

                                   

“O Campeonato Carioca de 1961 ia mesmo começar e Paulo Amaral armara um senhor ataque no Botafogo: Garrincha, Didi, Amoroso, Amarildo e Zagalo.

Com ele, a torcida botafoguense ingressou numa longa temporada no nirvana. Os adversários iam sendo derrubados um a um. Já no fim do primeiro turno, quando o Botafogo livrou de uma diferença de seis pontos sobre a concorrência, a torcida passou a estender faixas no Maracanã com a frase `Nunca foi tão fácil ser campeão´- e ainda havia meio campeonato pela frente. Cada jogo era uma festa.

Botafoguenses há muito incógnitos ou dados como mortos saíram de suas tocas. As arquibancadas do Maracanã tornaram-se um ponto de encontro. General Severiano passou a ser freqüentado como se fosse o Country Club. E, domingo após domingo, a torcida saboreou a proximidade do título.

O Botafogo atravessou invicto 22 jogos e, por uma dessas coisas que só aconteciam com ele, foi ser campeão na única partida em que perdeu: para o américa, por 2 x 1, na antepenúltima rodada (…). Duas rodadas de antecedência – nas quais ainda derrotaria o flamengo e o vasco, para salgar a terra já arrasada.

Aquele campeonato marcaria o início da epopéia do Botafogo como o time da moda, que dominaria o Rio pelos anos seguintes e condenaria os seus adversários a um amargo inferno astral. E com um estilo que lhe seria bem característico: misturando futebol, literatura e café-society. Artistas, intelectuais, grã-finos e políticos, todo mundo de repente era Botafogo.

O Botafogo não cabia mais no Maracanã”

Trecho (cuidadosamente selecionado, dada a ocasião) de Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha (Companhia das Letras, 1995) , a definitiva biografia do Mané, assinada por Ruy Castro. Ah, o autor, por incrível que possa parecer, é rubro-negro.

 

Páginas alvinegras – O nosso Buster Keaton

“Quando cheguei ao Brasil pela primeira vez, as conversas com amigos, conhecidos e estranhos inevitavelmente acabavam em futebo. A primeira vez que escutei menção a Garrincha, ouvi alguém dizer que tinha sido o melhor jogador que o Brasil havia produzido. E Pelé? Perplexo, e suspeitando que estavam me dando uma volta, comecei a perguntar a todo mundo quem eles achavam o melhor jogador brasileiro da história. A resposta, invariavelmente, era Garrincha (…).”

“Um dos aspectos mais notáveis na leitura de livros e artigos sobre a vida de Garrincha é que praticamente não há entrevistas com ele. Raramente expressava uma opinião. Aparece como homem sem voz própria. Nesse sentido, era como um astro do cinema mudo. Vendo novamente as poucas filmagens dele, você realmente se lembra de Buster Keaton. Para começar, as imagens são em preto-e-branco e, na passagem do filme para a tevê, ligeiramente aceleradas. Garrincha dá suas arrancadas, balançando o corpo num jeito quase de comédia. É bem cômica a maneira pela qual repete o mesmo movimento várias vezes – como uma criança determinada que nunca aprende (…).

“Se os brasileiros põem Pelé sobre um pedestal, não o amam do mesmo modo que amam Garrincha. É mais do que fato de as figuras trágicas têm maior apelo. Mas é também porque Pelé simboliza a vitória. Garrincha simboliza jogar pelo prazer do jogo. E o Brasil não é um país de vencedores. É um país de gente que gosta de se divertir”

Trechos do livro Futebol: O Brasil em campo (Jorge Zahar editora, 2002), do perspicaz jornalista inglês Alex Bellos, correspondente dos jornais ingleses Guardian e Observer, que morou quatro anos no Brasil.

A descrição de Bellos para o episódio da queda do alambrado em São Januário, na final do Brasileirão de 2000 entre vasco e São Caetano (especialmente por conta do comportamento tresloucado de Eurico Miranda),  é um primor de ironia.

 

 

Páginas Alvinegras – Eduardo Galeano

                                    

 

Garrincha

Nunca houve um ponta-direita como ele (…). Foi o homem que deu mais alegria em toda a história do futebol. Quando ele estava lá, o campo era um picadeiro de circo; a bola, um bicho amestrado; a partida, um convite à festa. Garrincha não deixava que lhe tomassem a bola, menino defendendo sua mascote, e a bola e ele faziam diabruras que matavam as pessoas de riso: ele saltava sobre ela, ela pulava sobre ele, ela se escondia, ele escapava, ela o expulsava, ela o perseguia. No caminho, os adversários trombavam entre si, enredavam nas próprias pernas, mareavam, caíam sentados.

Garrincha exercia suas picardias de malandro na lateral do campo, no lado direito, longe do centro: criado nos subúrbios, jogava nos subúrbios. Jogava para um time chamado Botafogo, e esse era ele: o Botafogo que incendiava os estádios, louco por cachaça e por tudo que ardesse, o que fugia das concentrações, pulando pela janela, porque dos terrenos baldios longínquos o chamava alguma bola que pedia para ser jogada, alguma música que exigia ser dançada, alguma mulher que queria ser beijada (…)”

 

Trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, coletânea de textos curtos do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Da parte que mais nos interessa, há também comentários sobre gols de Didi, Nilton Santos e Jairzinho, além de reflexões inspiradas sobre o esporte em capítulos como “A bola como bandeira” e “O pecado de perder”.   

O Fogo Eterno leu e recomenda a leitura, ainda mais porque há uma edição de bolso da L&PM com preço acessível (R$ 16,00) e bem fácil de carregar: dá até para levar para o estádio.

Afinal de contas, como já definiu um sábio alvinegro, o Botafogo é o time da massa… da massa cinzenta!

 

 

Páginas Alvinegras – Heleno de Freitas

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“Adentrou o gramado o fluminense, perfilando-se defronte às sociais. Seus atletas foram aplaudidos com frenesi. O Botafogo, ao fim do trote, tomou a tradicional chuva de vaias. Fazia parte do espetáculo.

Heleno de Freitas, o ídolo da massa alvinegra, batia bola para se aquecer. A aristocrática social de Álvaro Chaves não o perdoava, xingando-o sem cessar sempre que por lá pisava os pés. Afinal, jogara na base tricolor, era um traidor. O centroavante, titular da Seleção Brasileira, seguia tranqüilamente se exercitando. E com um quê de narcisismo. Bem ou mal, adorava ser reconhecido (….).

Houve um instante em que a torcida tricolor gritou com todas as forças: Gilda! Gilda! Heleno olhou o placar, meditou, e só depois de concluir a jogada colocou o indicador e o médio em V, como que antecipando a conquista do segundo gol. E teve sorte, porque Teixeirinha fez o segundo.

O Botafogo ganhou de 2 x 1. O outro gol foi assinalado por Geninho. Ironizando os tricolores – fez sinais que espalhava pó-de-arroz pelo rosto -, Heleno de Freitas, a melhor figura em campo, saiu de campo nos ombros da torcida”

Trechos do primeiro capítulo de “Nunca houve um homem como Heleno”, de Marcos Eduardo Neves, excelente biografia do centroavante que, em 235 jogos pelo Botafogo, fez 206 gols

Páginas Alvinegras – Nelson Rodrigues

Ele era tricolor, mas poucos entenderam tão perfeitamente a alma botafoguense quanto  Nelson Rodrigues. Achei que não haveria nome mais adequado para começar o resgate de trechos antológicos de grandes escritores sobre o Botafogo do que o inventor do Sobrenatural de Almeida. Leiam e vejam se não tenho razão. Os dois foram escritos em 1957 e publicados originalmente na revista Manchete Esportiva:

“Nem todo mundo pode imaginar o que é  `ser Botafogo´. Vejam um vascaíno, um rubro-negro e um tricolor. Eles se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Reagem diante da derrota, da vitória e do empate de maneiras bem parecidas. Suas euforias e depressões são equivalentes. Mas há, no botafoguense, coisas que só ele tem e que o distinguem de tudo e de todos”.

E outro trecho:

“Vejam os triunfos de um Vasco ou de um Fluminense: parecem uma contingência normal de qualquer competição. Mas o Botafogo é diferente. Dir-se-ia que o êxito exige, de si, uma maior abundância de suor e de lágrimas. Tudo é mais difícil para o Botafogo e o povo, com seu instinto agudo, costuma dizer: “Há coisas que só acontecem com o Botafogo! Porque o Botafogo tem contra a si a fatalidade, mesmo quando assombra, mesmo quando esmaga, mesmo quando arrebenta”

(trechos do livro O Berro impresso das Manchetes, Ed. Agir, 2007)