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vasco 1 x 0 Botafogo: Os erros e o castigo

Na primeira partida da final do Carioca, o vasco dominou durante mais tempo o Botafogo. Teve maior posse de bola, em especial na primeira etapa, quando merecia ter aberto uma vantagem no placar. Envolvido e improdutivo, o meio-de-campo alvinegro pouco fez. A saída de Gegê para a entrada de Tomas melhorou um pouco a nossa situação, e o Botafogo enfim criou as chances mais claras de abrir o marcador: Pimpão, Arão e Bill desperdiçaram as oportunidades de balançar as redes. Erros cruciais, que se tornaram mais lamentáveis por causa do castigo sofrido nos acréscimos, quando houve um vacilo coletivo da defesa e saiu o gol vascaíno.

Tudo está perdido? Sinceramente, não sei. A vantagem foi perdida, mas mesmo assim eliminamos os grenás nas semifinais. Mas tem um item em que o Botafogo já foi derrotado: a preparação física. De novo, o nosso time foi amplamente superado pelo adversário, e chegou ao fim do primeiro tempo já com sérias dificuldades para se impor do ponto de vista físico. Mais do que a conquista ou não da taça carioca, esse fato merece toda a atenção, pois desse jeito será muito difícil enfrentar o ritmo da Série B com uma sucessão interminável de jogos na terça e na sexta, sempre com uma viagem no meio.

No mais, é lamentar que o chute de Arão – o melhor jogador alvinegro da temporada até agora – tenha explodido no travessão e dizer que o Gilberto ainda precisa amadurecer muito para dar conta de marcar e apoiar em um jogo decisivo.

E, claro, não dá para depender de Bill. Cavadinha na decisão, Bill, é coisa só para um louco. Loco Abreu.

Botafogo no Carioca 2009: Balanço geral

fogofogo

O Campeonato Carioca 2009 termina no domingo e, como as reações serão extremadas para o bem ou (toc, toc, toc) para o mal, convém deixar alguns pontos já registrados, de olho no Brasileirão que se avizinha – sim, meus amigos, logo logo teremos os duelos Alessandro x D´Alessandro, Emerson x Ronaldo, Juninho x Keirrison, entre outros motivos para suar frio e nos trazer de volta à realidade.

E, por enquanto, o que temos?

O primeiro, e o mais importante, lembrando que, como estamos em véspera de decisão, não convém se estender nos pontos negativos que todos já conhecemos muito bem:

* Saldo positivo – Lembram do fim do ano, quando não havia nem onze jogadores no elenco depois da debandada generalizada por conta do atraso dos salários e outros fatores extra-campo? Pois é, o Botafogo teve um time que, mesmo com todas as deficiências que já cansamos de falar, conseguiu pela quarta vez consecutiva chegar à final do estadual, derrotando dois rivais diretos (grenás, lusos) em partidas decisivas nas semifinais da competição. Para quem era uma incógnita, apontado em janeiro como a “quarta força” do Rio, não é pouco.

* Austeridade com eficiência  – Ponto para a nova diretoria e para a comissão técnica: o time, mesmo limitadíssimo, rendeu muito gastando pouco. Comparem a folha salarial do adversário de domingo com a nossa: todos os titulares, mais quase todos os reservas dos urubus têm salários superiores a R$ 100 mil. No Botafogo, salvo engano, Reinaldo é o único que ultrapassa esse valor. Claro que isso acarreta na contratação de um monte de  jogadores sem condições de vestir a camisa alvinegra (Emerson, e não apenas pelo gol contra da Taça Rio, é um deles, sem contar nulidades como Jean Carioca, Lucazzilva, etc), e há absurdos, como a péssima forma física de Renato após TRÊS meses de treinamento e o estranhíssimo caso Teco (o cara não jogou uma partida ainda) mas, na média, as contratações renderam mais do que o esperado… para o Carioca.

* Um time raçudo e sem ranço dos anos anteriores – Sim, o time é limitado (e faremos um post em separado na semana que vem com a avaliação do trabalho do Ney Franco), mas não podemos nos queixar de falta de empenho. Pelo contrário: em outras circunstâncias, como em 2008, tomar um gol do maior adversário ainda no primeiro tempo seria senha para desestabilização emocional e abertura da porteira. O Botafogo desse ano, não; virou o jogo ainda no primeiro tempo e só não ganhou a partida pela dupla contusão de seus atacantes e pelo erro crasso do Ney em colocar na partida um jogador sem condições de atuar profissionalmente. O Botafogo 2009 é diferente do Botafogo 2008 – e isso faz bem ao time e à torcida.

Ataque eficiente e solidário – Essa, sem dúvida, foi a grande surpresa positiva. Ninguém esperava que o trio Maicosuel – Victor Simões – Reinaldo se encaixasse tão rapidamente, e (aparentemente) sem estrelismo. Se Dodô fazia questão de brilhar praticamente sozinho em 2007, e em 2008 nosso “poderio ofensivo” se limitava a Wellington Paulista-Jorge Henrique-Fábio Fabuloso, o cenário é bem diferente em 2009.

* Craque do campeonato, ídolo a caminho – Se a diretoria trabalhar direitinho e a bruxa não andar à solta novamente, Sir Michael Swell tem tudo para ser um dos grandes destaques do Brasileirão. No Carioca, fez gol logo no primeiro jogo, garantindo a vitória no último minuto da partida (lembram?). Mais: fez chover em pelo menos dois clássicos, contra o vasco no 4 x 0 e no último domingo. É o fator de desequilíbrio do time, nossa esperança de sonhar com algo melhor do que apenas mais uma participação na Sul-Americana.

Melhor jogo até agora: Botafogo 4 x 0 vasco, semifinal da Taça Rio. Um jogo para rever e gravar.

Pior jogo: Botafogo 0 x 1 flamengo, final da Taça Rio. Por tudo o que já sabemos.

Então, meus caros, não se iludam com o resultado de domingo. Se formos campeões, vamos até achar que o Alessandro não é tão ruim assim, e que o Emerson, coitado, merece uma chance. Se perdermos o jogo, nem vamos lembrar que entramos sem o nosso único craque em campo: vamos xingar o Reinaldo    (atualizado no sábado – ele também não joga a decisão) e o Victor Simões de mulambentos, mandar o Ney Franco para a beira do caos, etc.

Agora, encerrada a racionalização, vamos para o fim de semana mais importante do primeiro semestre do ano.

– Vai na bola, Thiaguinho! Acerta o pé, Victor! Sai do gol, Renan! PQP, Alessandro!  Que é isso, seu juiz? Cadê você, Fahel? Sai daí, Emerson! Foi pênalti, ladrão! Capricha, Juninho! Isso, Guerreiro, sem falta, na bola!  Vamos ganhar, Fôgoooo!!!   

Um pensamento para 2009

Um carinha do SporTV comentava outro dia que estranhou a ida do Reinaldo para o Botafogo, pois nosso novo centroavante é framenguista desde criancinha.
Agora é a vez do Victor Simões ser cobrado por torcer pelo urubu, apesar da ressalva de sua família ser inteiramente alvinegra.
Francamente, a preferência clubística dos jogadores que vestirão a camisa do Botafogo em 2009 é um assunto que pouco me interessa. Porque, na boa, não faz diferença dentro de campo. E, se faz, é para pior.
Mais do que descobrir se o tio-avô do Reinaldo admirava o Nilton Santos ou se o primo do Victor Simões jogava botão com o Cremilson, só quero saber se estes e outros jogadores terão os salários em dia para serem cobrados pelos resultados que precisamos contra seus clubes do coração, quaisquer que eles sejam.
Em 2009, escolho o comprometimento profissional e a eficiência. Dispenso a rasgação de seda, beijo-no-escudo, expulsões em nome da torcida, expressões de revolta, lágrimas de tristeza.

Enquanto as cicatrizes fecham, quero a paixão alvinegra apenas nas arquibancadas. E quero que o amor dos jogadores, como diria o botafoguense Vinicius de Moraes, seja infinito enquanto dure os campeonatos. 

Depois, temporada encerrada, como já aprendemos (ou deveríamos ter aprendido), é cada um na sua.

Histórias Gloriosas – As Crônicas do Pereirão: O melhor Botafogo de todos os tempos (III)

O inesquecível gol de Maurício em 1989
C. Pereira

 O último título de campeão carioca do Botafogo havia sido conquistado em junho de 1968,  numa tarde memorável em que enfiamos 4×0 no todo-poderoso vasco, com direito a olé e show de bola – conforme foi dito aqui na semana passada.

Depois disso, foram intermináveis 21 anos de jejum, período em que o clube atravessou crises políticas, financeiras e técnicas com vários times que quase ninguém lembra.
Na noite de 21 de junho de 1989, o Maracanã recebeu um numeroso público –  mas  não tão grande quanto o do jogo final de 1968 a que me referi na semana passada. Era mais uma decisão de campeonato,  o jogo foi contra o flamengo e o Glorioso obteve uma vitória histórica.

 O placar foi 1x 0, gol de Maurício, até hoje lembrado pelos botafoguenses e contestado pelos rubro-negros (os mais idosos).
 Dessa feita, eu não estava no Maracanã, ao lado dos quase setenta mil espectadores, divididos meio a meio (segundo os estatísticos de plantão), mas assisti ao jogo pela televisão aqui em João Pessoa, na casa do mano Zé Humberto e tendo à minha direita (como nos escritos bíblicos) um dileto amigo,  apaixonado torcedor do flamengo com o qual, aliás, dividi alentadas doses do melhor uísque escocês.
 O gol de Maurício – ainda hoje homenageado pelo feito – nasceu de uma jogada quase perdida, no  segundo tempo. Mazolinha, que havia entrado no lugar de Gustavo, centrou e Maurício, com a ponta da chuteira, tocou de leve para o arco de Zé Carlos que nada pôde fazer.
Foi uma noite inesquecível. O jejum foi quebrado, os títulos voltaram a acontecer e, para valorizar ainda mais aquela conquista é bom que se registre: o flamengo tinha, no seu time titular, entre outros, Jorginho, Aldair, Leonardo,  Bebeto e Zinho – todos titulares da seleção de 94, tetracampeã do mundo, além de Zico, o maior ídolo da história do clube.
 O time do Fogão (bem mais  modesto do que o adversário) foi campeão com Ricardo Cruz, Josimar, Wilson Gotardo, Mauro Galvão e Marquinhos; Vitor, Carlos Alberto e Luizinho. Maurício, Paulinho Criciúma e Gustavo (Mazolinha) que, principalmente pelo título obtido, passou a figurar na galeria dos melhores.
Todos sabem que o Botafogo é reconhecidamente um clube de superstições e sobre aquela partida, Valdir Espinosa que era o técnico,  escreveu o texto que segue:
“Durante todo o campeonato estadual do Rio de Janeiro de 1989, em todas as preleções realizadas antes dos jogos, o Luizinho, meio campo titular daquele time, comparecia vestindo uma camisa do Nápoli que ele tinha ganhado de Maradona. Foi assim do primeiro jogo até o penúltimo. Sim, o penúltimo, pois no dia do jogo final contra o flamengo, antes de iniciar a palestra olhei para todos os jogadores e não encontrei a camisa azul do Nápoli. Não falei nada, olhei para o Luizinho, olhei para o restante do grupo e novamente para o Luizinho. Sorrindo, ele abriu a bolsa, pegou a camisa do Maradona e vestiu. Só aí comecei a preleção.”
E como há coisas que só acontecem com o Botafogo, é interessante anotar o reforço que conseguimos nos últimos dias, graças a um botafoguense convicto daqui de João Pessoa.  Para melhorar o atual elenco (que é bem inferior a alguns do passado), estamos contando com o inestimável apoio do cachorrinho Perivaldo, para (quem sabe?) reviver  os bons  tempos de  Biriba e Carlito Rocha.
Aliás, é fundamental que a diretoria do Fogão contrate o Perivaldo com urgência, antes que algum urubu queira pousar na sua sorte…

C.Pereira é jornalista e alvinegro, não necessariamente nessa ordem

Histórias Gloriosas – As Crônicas do Pereirão: O melhor Botafogo de todos os tempos (II)

A grande festa de 1968
C.Pereira
 
Um dos melhores times que o Botafogo de Futebol e Regatas já teve, nos últimos 60 anos, foi sem dúvida o que conquistou o Campeonato Carioca de 1968.

Embora fossem anos de chumbo, em razão do golpe militar que implantou uma ditadura sanguinária no país, os anos 60 foram talvez os mais gloriosos do Botafogo.

O Glorioso da estrela solitária que rivalizava com o Santos de Pelé, em ceder mais jogadores para a seleção brasileira – campeã em 1958, na Suécia e bi, no Chile, tinha – entre outros – craques (na acepção do termo) como Newton Santos (naquela época era assim escrito!), Garrincha, Didi, Amarildo, Zagalo, Quarentinha, Jairzinho, Carlos Roberto, Manga, Paulo César e tantos outros que fica até difícil enumerá-los.

Na decisão do certame carioca de 1968 num inesquecível jogo, realizado  em 9 de junho num Maracanã lotado, com quase 160 mil espectadores, o Botafogo enfiou uma goleada histórica no vasco da gama. O placar foi de 4×0, com direito a show de bola e olé no final.

Os gols foram marcados por Roberto, Jairzinho, Rogério e Gerson e aquele time vencedor jogou com Cão, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gerson; Rogério, Jairzinho, Roberto e Paulo César.
 Estive presente nas arquibancadas, espremido no meio da torcida botafoguense que, nesse domingo, era bem maior do que a do vasco da gama. E sobre esse jogo, guardo duas lembranças interessantes:

1 – O mais difícil foi chegar ao Maracanã. Eu estava morando no Rio há pouco mais de um mês e resolvi aceitar a carona que me ofereceu  Celeste,   botafoguense autêntica e destemida  prima de minha mulher que, com o seu Volks do ano, se enrolou toda no caminho do estádio, procurando a rua  Jorge Rudge (será que é este mesmo o nome da via?)  para estacionar e quase perdemos o começo do jogo.

2 – Depois da estonteante vitória, de volta pra casa não nos perdemos (ninguém se perde na volta, já disse o poeta!).  Foi fácil e agradável acompanhar a enorme carreata alvinegra que nos levou diretos para o Canecão (vizinho à sede do clube) onde rolou a festa do título que entrou pela noite e varou a madrugada. Milhares de torcedores cantaram, beberam e dançaram, ao som do melhor samba puxado pela incrível Beth Carvalho (naquele tempo, bem mais magra!). De hora em hora, o samba parava e, emocionados, todos de pé entoavam o hino do Botafogo, numa atitude de respeito e reverência somente igualados aos que ouvem o Hino Nacional em dias de jogos da Copa do Mundo.

A festa e aquele time de 1968 também se tornaram inesquecíveis.

Até a próxima semana, com o incrível gol de Maurício que deu ao Fogão o título de campeão carioca de  1989 depois de 21 anos de jejum e, o melhor, exatamente contra o flamengo…

C.Pereira é jornalista e alvinegro, não necessariamente nessa ordem.  Aos filhos, sempre deu plena liberdade para escolha do time – só impunha uma condição: “desde que o escolhido seja o Botafogo…”

Discordo, Túlio

“Se soubesse que seria assim, preferia perder a Taça Rio. Comemoramos o título, mas de repente era melhor ter perdido”

Túlio, ao comentar a derrota na decisão do Campeonato Carioca.

Discordo frontalmente:

1) Ganhar sempre é bom;

2) Ganhar do fluzinho sempre é bom;

3) Ganhar do fluzinho, com gol de Renato Silva, é ainda melhor;

4) Foi uma bela festa, que nós nos devíamos desde 2007

 

Azar é o nosso, sr. Zanini

É inadmissível que um jornalista esportivo, teoricamente um profissional preparado para analisar e esmiuçar os aspectos do futebol que o leigo eventualmente não percebeu ao longo da partida, fale em público o que disse no SporTV o senhor Telmo Zanini após o final de flamengo x Botafogo.

“Sei não, dez anos de carreira e nenhum título, tô começando a achar que o Cuca é um azarado. Ele é pé-frio…”

Ora, seu Zanini, já que o máximo de análise que o senhor consegue formular é atribuir a perda do título estadual de 2008 ao “pé-frio” do treinador, uma sugestão: ceda seu lugar a um astrólogo, que dirá que o Botafogo perdeu por conta da “conjunção astral da Lua em Saturno”, a um numerólogo (para somar o número de letras dos nomes Joel, Obina e Tardelli), a uma mãe-de-santo, etc.

Deles a gente pode esperar esse tipo de “análise”, jamais de um jornalista esportivo.

Ou, se quiser comprovar a sofisticada tese, faça a seguinte experiência: entregue a Cuca o elenco inteiro (só titular não vale, tem que ser com os reservas também) de flamengo e Palmeiras. Desfalque o time adversário no primeiro jogo da decisão. Se, nem assim, o Cuca conseguir ser campeão, a sua teoria pode ter algum fundamento.

Se tem alguém azarado nessa história, é o telespectador que se deparou com tamanho absurdo – e num canal pago e especializado em esporte, pretensamente território exclusivo para profissionais qualificados. 

Lição de domingo: o flamengo ganhou o título… e o futebol brasileiro ganhou uma nova Mãe Dinah.

Mãe Zanini, todo domingo no SporTV, ao seu dispor.

 

 

  

Exclusivo: Crônica do Chororô Anunciado

Bem, Amigos da Rede Mengo!

Quero começar meu programa de hoje dizendo que eu estou muito preocupado. Preocupado e indignado! Como é que o meu time do coração vai jogar no México, a menos de uma semana da final do Campeonato Carioca? Ora, o desgaste de uma viagem de avião dessa magnitude é incalculável! Ficamos sentados durante doze horas, sem cair na farra, isso a mais de 10 mil metros de altitude! Está na hora de nosso presidente Márcio Brega entrar com recurso na Fifa e exigir que as aeronaves com a delegação rubro-negra só voem na altitude de urubu, a 30 metros do solo… Sobre esse assunto, eu quero ouvir logo na abertura o Rubro-Mengo Profissional. Você concorda comigo, RMP?

– Claro, Rubrueno! E digo mais! Já falei com meu amigo Kleber Dente-de-Leite…

– RMP, eu sei que esse assunto faz seu coração Rubro-Mengo Profissional bater mais forte, mas se controle! O programa é meu. Mas como sou um cara legal, vou deixar todos vocês falarem daqui a pouquinho: cada um terá 17 segundos para concordar comigo!

– Mas Rubrueno, eu não resisto! Inclusive eu tenho uma informação privilegiada, que me foi passada em segredo por um conselheiro anônimo alvinegro, o Charles Borer: o Cuca vai deixar o Botafogo na véspera da final para treinar a Seleção de Andorra, que tentará uma vaga nas eliminatórias da Eurocopa. É proposta irrecusável, hein?

– Se segura, Rubro-Mengo! Depois a gente fala do adversário! Agora temos que nos unir para conseguir o adiamento da decisão de domingo para o dia 23 de outubro de 2047, quando os nossos guerreiros estarão, enfim, plenamente recuperados do desgaste dessa viagem tão cansativa! E o risco de uma contusão no Free Shop? Aquelas sacolas são perigosíssimas, ainda mais cheias de perfumes! E alô, Dente-de-Leite: Alguém tem que vigiar o Obina, senão ele vai se empanturrar de acarajé com guacamole! Isso é sério, gente! Afinal, é o Brasil na Libertadores, gente! E o Brasil é todinho rubro-negro…

(Silêncio no estúdio. Voz embargada, Rubrueno respira fundo)

– É, não adianta. A emoção fala mais alto nessas horas… Daqui a pouco tem atração musical, só que eu esqueci quem é… (consulta as fichas). Zeca Pagodinho e Beth Carvalho juntos cantando o “Ninguém Cala”? Ah, que pena, não vai dar, nosso tempo está estourado hoje. Produção, manda uma van levá-los até o Engenhão…  

– Agora, sim! Vamos falar da decisão do Estadual do Rio de Janeiro. Todo mundo vai poder comentar, mas os rubro-negros falam primeiro; se sobrar tempo, os outros dizem qualquer coisa.  Mas antes eu queria pedir para passar as imagens do primeiro jogo…
(De olho no monitor, acompanha atentamente os lances da partida)

– O Zé Roberto fez uma partidaça, não? Ah, desculpa, é o Zé Carlos! Claro, o Zé Roberto ficou de fora, tomou o terceiro cartão, não foi, José Roberto Wrong?…

– Foi, sim. Suspensão justíssima, inclusive passível de punição com cartão vermelho, ele e os outros dez jogadores botafoguenses… nesse momento! Não, recua um pouco a imagem… Agora, sim, nesse momento! Ops, também não foi agora…

– Muito bem, Wrong! Depois a gente aciona o tira-teima. Agora eu quero ouvir o canto das torcidas no Maracanã, que fazem um espetáculo bonito, o espetáculo das famílias…

Tu és time de travecão
Vai pra motel fuleirão
Que papelão…

Eu nunca me esquecerei
Onde estiver gritarei
Seu boiolão…

– Essa música tá diferente…

(presta atenção na letra).

– Não, essa eu não gostei, não! Não era essa música combinada, Mário Jorge, era para colocar a do chororô! Assim vocês querem me derrubar, seus traíras! Rubro-Mengo Profissional, faz alguma coisa!

– Olha, Rubrueno, fiquei sabendo também que o Botafogo terá um outro desfalque para domingo: Wellington Paulista recebeu uma proposta irrecusável para retornar ao Juventus. Vai trocar General Severiano pela Rua Javari antes mesmo da final. E quero ver a diretoria alvinegra desmentir! 

– Enfim, uma boa notícia! Obrigado, Rubro-Mengo, por isso que você não pode faltar aqui no nosso programa! Agora eu quero ouvir a opinião isenta de um outro comentarista… É você mesmo, meu amigo Sênior Capacete! Um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, ganhou duas Copas do Mundo!

– Não, Rubrueno, eu nunca ganhei nem uma, quanto mais duas Copas… 

– Desculpa, Sênior, te confundi com o Nilton Santos! E vou dizer uma coisa: realmente, o Nilton ganhou dois Mundiais, mas você ganhou muito mais!  Você ganhou a simpatia do Brasil inteiro quando resolveu virar cantor! “Voa, urubuzinho, voa…” 

– Não, Rubrueno: era “Voa, canarinho, voa…”

– Tanto faz, Sênior! Deixa esse negócio de Copa do Mundo de lado e vamos falar de coisa mais importante. Você não acha que essas invenções, digo, informações do RMP, da saída do Cuca para a Seleção de Andorra e do Wellington Paulista para o Juventus, podem causar um sério desequilíbrio emocional no Botafogo?

– Sim, Rubrueno, vou te falar uma coisa que eu andei pensando…

(suspense)

– Além de ser um time instável emocionalmente e só saber jogar no contra-ataque, o Botafogo não tem peças de reposição. 

– Eles não têm peças de reposição?!

(mais suspense)

Sim, então a vantagem é toda nossa, Rubrueno!

–  É verdade, Sênior! Como é que eu não pensei nisso antes? Que análise brilhante! Só peço quando você se referir ao flamengo não falar “nós”. Porque senão o pessoal pode achar que a gente tem alguma preferência e isso não é verdade: aqui somos todos profissionais…

(muda de câmera)

– Vamos fazer o seguinte? Daqui a pouco, a gente volta a falar de futebol. Futebol, não, que isso não tem nada a ver com o futebol. Isso é crime! Não tem outra palavra para definir essa situação dramááááááática do flamengo no México! É um ab-sur-do! Atenção, senhores parlamentares da Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional! São cidadãos ilibados, profissionais exemplares, gente de caráter, esqueci alguém? Ah, o Souza e o Toró… bem, esses autênticos heróis brasileiros estão sendo submetidos a todo tipo de infortúnio, dor e sofrimento longe de sua terra natal! 

(pensativo)

– Presidente Lula, não seria a hora de acionar o Alto Comissariado das Nações Unidas? 

(Expressão desanuviada depois do desabafo, Rubrueno deixa escapar um sorriso orgulhoso)

 – Agora eu quero falar de um outro esporte que está mobilizando todo o povo brasileiro. É isso mesmo, amigo, a temporada 2008 da Stock Car está de arrepiar! Que festa bonita! Inclusive tem um piloto diferenciado, não é, Reginaldo? O garoto tem talento no sangue…

 

Jogo I: fla 1 x 0 bota – Joílson em campo

Você, torcedor alvinegro, estava com saudades de Joílson? Seus problemas acabaram!

Eduardo se revelou hoje um legítimo sucessor do atual jogador do São Paulo. 

Confiante na própria habilidade, quase fez um golaço em grande jogada individual. Na conclusão, contudo,  fez a opção errada: se rolasse a bola para a pequena área, Túlio estava absolutamente sozinho, pronto para meter para dentro. Mas, egoísta, preferiu o chute. A bola explodiu na trave.

O espírito de Joílson baixou novamente em Eduardo – e em hora decisiva. De salto alto, errou um passe de menos de três metros e armou o mortal contra-ataque rubronegro, no único momento em que a zaga alvinegra estava completamente dessarrumada. 

Como disse Diguinho, “em clássico não se pode errar”.

Lição aprendida, Eduardo?

 

Jogo I: fla 1 x 0 Bota – Pecado Capital

                  

Aconteceu o que era esperado: com dois times tão equilibrados e que se conhecem a fundo, os desfalques fizeram a diferença no resultado final. Especialmente as ausências de Jorge Henrique (que permitiu que os zagueiros rubro-negros se concentrassem em anular Wellington Paulista) e Alessandro, este último o fator de desequilíbrio no 3 x 0 na semifinal da Taça Rio. E da péssima participação de seu substituto.

Esse desnível já era perceptível nos primeiros minutos, quando ficou evidente a total incapacidade de Túlio Souza em marcar e/ou passar a bola. E foi novamente errando um passe, que T.Souza teve que cometer uma falta violenta e tomou cartão amarelo. Havia uma avenida aberta para evoluções constantes dos jogadores rubro-negros; o gol era questão de tempo. Aí Cuca acertou.

O técnico agiu como torneiro mecânico e vedou o vazamento. Sacou Túlio Souza e colocou Eduardo. O jogo ficou novamente equilibrado, mas sempre com predomínio rubro-negro. Nosso meio-de-campo simplesmente não funcionou: sem tabelinhas, sem criatividade, sem produtividade. Lúcio Flávio, missing in action: mesmo sumido, no único lance de categoria, cavou uma falta perto da área. Diguinho fez seu pior clássico e Túlio, deslocado, pelo menos ofereceu raça e disposição. E, importante, Renan demonstrou segurança e fez ótimas defesas, uma antológica em chute à queima-roupa do “lixeiro” Souza. Ao lado de André Luiz, foi o melhor do time. 

Mas…

No segundo tempo, Cuca quis mais do que o empate. Tentou ganhar o jogo. Percebeu que Eduardo tinha entrado bem na partida e decidiu avançá-lo, como um meia, colocando Edson na zaga. E dessa segunda alteração tática veio o pecado capital: Eduardo, cheio de confiança (e marra, após a bola na trave), errou um passe num lugar em que não poderia errar. Armou o contra-ataque adversário, rápido e mortal: Léo Moura fez um lançamento perfeito para Tardelli, que, também com categoria, rolou para Obina completar.  

E, falando friamente, 1 x 0 foi o placar justo para a partida. Especialmente pelo primeiro tempo.

foto:Lancenet

 

Bota x fla, Jogo I: o segredo do sucesso

Sem Alessandro e Triguinho nas laterais para surpreender com as subidas ao ataque, as chances alvinegras se concentram nas chuteiras de Túlio, Diguinho, Lúcio Flávio e Zé Carlos. 

Se o meio-de-campo funcionar a contento, conseguiremos destruir as jogadas rubro-negras ainda no campo do adversário, impedindo os avanços de Léo Moura e Juan. E ainda, de quebra, roubar a bola e armar as jogadas para finalizações de Wellington Paulista ou Fábio. Ou para os chutes de longa distância de Túlio e LF.

Vale lembrar que o Botafogo saiu na frente no placar em todos os clássicos que disputou. E isso não aconteceu porque estava escrito nas estrelas ou nas cartas do tarô, mas como decorrência lógica da conquista de maior domínio  no meio-de-campo.

Como no futebol americano, avançamos no território inimigo até obter o touchdown. 

Se a marcação recuar e ceder campo para o Império do Mal, será um deus-nos-acuda. Porque nossa zaga é lenta e também tem dificuldades em fazer a linha de impedimento. E, como não haverá laterais de ofício do nosso lado, os que estarão por ali improvisados terão maiores dificuldades para se impor em relação a alguns jogadores rápidos como L.Moura, Juan e Marcinho.

Pelas razões expostas acima, a partida de domingo será, antes de mais nada, o jogo da superação.