Ao vetar meia-entrada para as torcidas organizadas, Bebeto pagou para ver. Daqui para a frente plantará o que colheu, e aqui não há nenhum juízo de valor. Se acertou ou errou, só o tempo dirá.
No primeiro round, a vitória foi do presidente. O Botafogo avançou às semifinais da Copa do Brasil mesmo sem o apoio expressivo das organizadas, que perderam a chance de participar da festa em um boicote pueril, que lembrou antigo ditado sempre repetido pela minha avó:
“Capricho com prejuízo só faz quem não tem juízo…”
Desconfio que, independente do boicote, o fato de o jogo contra o Corinthians ter sido marcado para um horário decente, 20h30, vai contribuir para um maior público na próxima terça-feira. Ao contrário da quarta passada, ninguém sairá do Engenhão depois da meia-noite num dia de semana.
Há, claro, providências a serem tomadas pela diretoria. Ficar, por exemplo, de olhos bem abertos para impedir a venda de ingressos aos visitantes além da cota máxima.
Mas, quanto à questão da proibição à meia-entrada, bola pra frente. Se a diretoria tiver tomado a decisão errada, paciência. Aprenderá com o erro pois não está agindo dessa forma por má-fé mas porque acredita que essa é a melhor decisão para o Botafogo. E há coerência na atitude de não privilegiar um grupo de torcedores em detrimento dos outros. Até acho que pode haver outras formas de incentivo às organizadas, mas não financeiras. E nem é, agora, o momento de discuti-las: temos um Brasileirão inteiro para fazer isso.
O mais importante: não será por esse confronto Bebeto x Organizadas que o Botafogo vencerá ou perderá a partida da próxima terça. Até porque, bem que gostaríamos que fosse, mas o Engenhão não é exatamente um caldeirão. A pressão não faz tanta diferença como, por exemplo, faz na Ilha do Retiro – a pista de atletismo afasta a torcida e dificulta a ebulição máxima.
Me preocupa bem mais o fato de o time não apresentar um futebol de encher os olhos desde a semifinal da Taça GB contra o fluzinho, quando fizemos a nossa melhor partida do ano (obviamente não levo em conta aqui confrontos contra times pequenos nem clássicos esvaziados). São raras as ultrapassagens, triangulações, bolas enfiadas na área, tabelinhas desconcertantes e envolventes, todas características do melhor que o Botafogo ofereceu em 2007 e 2008.
As jogadas ensaiadas estão se mostrando improdutivas e previsíveis. A ausência de um lateral-esquerdo de ofício e o rendimento inconstante de titulares absolutos, como Túlio, Jorge Henrique e Lúcio Flávio, também contribuem para a queda de produtividade de um time que, sabemos desde o início do ano, é tecnicamente limitado. Triguinho terá condições de voltar? Túlio Souza entra no lugar de Diguinho ou Leandro Guerreiro volta para sua posição original? E, nesse caso, quem fará a ala esquerda?
O Corinthians está em ascensão, chega às semifinais sem contusões nem suspensões, com toda a fome do mundo em busca da vaga na Libertadores, com uma torcida magoada com o rebaixamento, enlouquecida atrás de um título. Quem vai marcar o Herrera, já que o Diguinho não estará em campo? E o Lulinha caindo pelas pontas, quem fará o primeiro combate? Estes deveriam ser os motivos de nossas preocupações até a próxima terça-feira.
Está na hora de concentrar o foco no que pode acontecer dentro de campo. Não se iludam: essa classificação é difícilima!
E cabe aos torcedores que podem ir ao Engenhão, organizada ou desorganizadamente, apoiar os jogadores durante os 90 minutos. Qual será a utilidade, por exemplo, de vaiar Zé Carlos num jogo decisivo? Cuca tem melhores opções no banco? Não, meus caros, sabemos que ele não tem. E, com o que tem, ele já fez milagre. Ainda precisamos – muito – de bons reforços. Carlos Alberto é pouco, para quem sonha com a Libertadores, mas nem este estará disponível na próxima semana.
Roupa suja se lava em casa – mas só depois da festa, ou da ressaca. De cabeça quente, já esgotamos – torcida, diretoria, jogadores – a nossa cota de atitudes infantis nos últimos meses.