O destino pode ser caprichosamente cruel.
Quem diria que, no final de 2008, o Botafogo perderia um jogo importante pelos mesmos fatores que derrubaram o time em 2007:
– Falha grosseira do goleiro
– Erro grosseiro da arbitragem
– Vulnerabilidade defensiva no contra-ataque
– Descontrole emocional (sim, essa é para você, Bebeto)
Somados a esses três itens, o principal deles, mas que infelizmente ficará encoberto pelos problemas mais visíveis do jogo e que renderão dias de discussão desgastante e inútil: a incompetência do técnico do time na hora de escalar os onze titulares.
E é sobre isso que prefiro falar por aqui: o maior responsável pela derrota do Botafogo para o São Paulo chama-se Ney Franco.
Escalar três zagueiros e três volantes para jogar em casa, quando o time precisava da vitória, é de uma sandice inominável. E, além desses seis, ainda entregar a camisa 10 para Zé Carlos representa uma piada sem-graça, amarga.
Porque o Botafogo, com essa escalação, já entrou derrotado. Confiar todo o “poder de ofensividade” a Wellington Paulista e Jorge Henrique chega a ser um crime de lesa-torcedor.
Se eu tivesse ido ao Engenhão, pediria o dinheiro de volta assim que a escalação foi divulgada.
Resultado dessa covardia defensiva? Um passeio do time tricolor, com domínio total do meio-de-campo e o Botafogo pressionado, encolhido, assistindo de forma atabalhoada e perplexa, o desfile dos bambis: São Paulo Fashion Week em pleno Engenhão.
Ao perceber a linha de três zagueiros, o tricolor paulista alugou o meio-de-campo e desandou a chutar de fora da área, com Hernanes e Jorge Wagner – este último acertou um tiro no canto, que o Renan conseguiu salvar na ponta dos dedos, talvez a sua defesa mais difícil com a camisa alvinegra.
E o Botafogo? Sem ninguém para armar e nem acertar três passes consecutivos, o time só escapou da derrota parcial por um milagre. Apenas aos 31 minutos, o time conseguiu encadear quatro passes certos no ataque… e Alessandro escorregar e cair sentado, diante de seu marcador. Esse lance foi o retrato do primeiro tempo.
Jogadas perigosas? Só dois chutes desgovernados do Zé Carlos e um ataque aos 40 minutos, graças ao primeiro passe certo do Camisa 10, que resultou em escanteio.
E o que o Ney Franco achou dos primeiros 45 minutos? Ele gostou! “O jogo está equilibrado, as duas equipes estão jogando bem”, disse o nosso treinador. Fiquei com mais pena ainda de quem pagou ingresso.
Começa a segunda etapa e o Ney continua com o mesmo time, apesar da incrível dificuldade do Edson e do Leandro Guerreiro em conter o veloz ataque do time paulista. Somente aos 10 minutos, Ney Franco resolveu agir e fez duas mudanças: Fábio no lugar de Zé Carlos; Luciano Almeida substituindo Edson. O time melhorou instantaneamente e já tinha maior domínio quando…
Não, não vou culpar o Renan pela falha na reposição de bola que gerou o primeiro gol do São Paulo. Claro que foi o erro típico de um goleiro inexperiente, que está amadurecendo em público, passando por testes de fogo a cada partida. Mas, francamente, vocês acham que o Castillo teria resistido ao bombardeio são-paulino do início do jogo? Claro que não!
É uma falha terrível, mas que ficará como lição para o jovem goleiro alvinegro. É uma cicatriz a ser carregada – e lembrada, de tempos em tempos, para que ele não cometa mais esse erro.
(E não podemos também tirar o mérito do são-paulino Jean, que se aproveitou da falha e fez um golaço, num chute de rara categoria e precisão)
Na base da raça, e chegando ao ataque pela primeira vez com quatro jogadores, o Botafogo conseguiu empatar graças á esperteza do Wellington Paulista, após uma trombada de Fábio com Rogério Ceni. O time novamente dominava o jogo quando cometeu outra falha por displicência: Diguinho perdeu a bola, Leandro Guerreiro saiu correndo feito desesperado, mas a cena já estava escrita desde o início, com um gol de Hernanes.
Duas falhas individuais, dois gols do São Paulo.
A entrada de Lucas Silva deu maior volume e mobilidade ao time. Jorge Henrique passou a se movimentar com mais perigo e os ataques eram feitos em bloco – como deveria ter sido, desde o início. Foi assim que o Botafogo chegou ao gol de empate, erradamente anulado pelo bandeirinha, que enxergou um corta-luz no chute de Lucas. Okay, o Wellington levantou o pé, mas DEPOIS que a bola passou por ele – e nem próxima ao centroavante a bola passou. Um erro crasso, talvez o maior já sofrido pelo Botafogo dentro de seu estádio. E uma nova cicatriz na nossa pele.
Ao meu ver, porém, isso não justifica a atitude do Bebeto de ir até o campo e, totalmente descontrolado e aos berros, xingar o bandeirinha. Porque invadir o próprio estádio é um ato desesperado que desperta, imediatamente, a antipatia da mídia e não resolve absolutamente nada. Se o Bebeto precisa desabafar, que o faça em seu camarote ou no vestiário – jamais dentro de campo.
A verdade, meus caros, é que, sem Carlos Alberto nem Lúcio Flávio, e um treinador que não dá chance de verdade aos seus reservas, as chances do Botafogo nessa partida eram bem reduzidas. E o empate, que teria sido obtido com o gol anulado, não faria grandes diferenças para a classificação.
Vamos à Sul-Americana 2008 e 2009. É o que nos resta torcer.
E que o G-4 siga assim, com esses integrantes, até o final da competição.
Como eles atuaram?
Renan – Ótimo primeiro tempo, falha terrível na segunda etapa. Nota 5
Alessandro – Lerdo e sem poder ofensivo. Nota 4
Renato Silva – Esforçou-se, mas sem muito foco. Nota 4
André Luis – O melhor da zaga, ainda quase fez um golaço de falta. Nota 6
Edson – Lento e mal posicionado. Três zagueiros para quê? Nota 3 Deu lugar a Luciano Almeida, que não acrescentou quase nada. Nota 4
Túlio – O melhor volante no primeiro tempo. Só não conseguiu apoiar com eficiÊncia de outrora. Nota 5 Foi substituído por Lucas Silva, que deu velocidade e fez o gol anulado. Nota 6
Leandro Guerreiro – Voltou a ser o LG de 2008. Pena. Nota 4
Diguinho – Uma das piores atuações do ano. Nota 4,5
Zé Carlos – Camisa 10, a que já foi do Mendonça? Que heresia. Nota 3 Saiu para a entrada de Fábio, que soube fazer o jogo de centroavante que WP não conseguiu em todo o primeiro tempo e participou do primeiro gol. Nota 6
Jorge Henrique – Primeiro tempo simplesmente lamentável e irritante. Quando o time passou a ter atacantes, melhorou – tarde demais. Nota 4
Wellington Paulista – Nulo no primeiro tempo, bem na segunda etapa. Raça premiada com o gol. Nota 5
Ney Franco – Não culpem o Renan nem o bandeirinha: ele é o responsável pela derrota. Nota 1
Bebeto de Freitas – Poderia ter encerrado o seu mandato poupando a torcida de mais uma demonstração pública de descontrole emocional, que acaba contaminando os jogadores e ofuscando as principais deficiências do grupo e da comissão técnica que contratou. Nota Zero