INTENSO BOTAFOGO…ANTES DA TEMPESTADE
Por Fábio Snoopy, especial para o Fogo Eterno
Sem medo, afirmo categoricamente que a acachapante vitória de 4 x 0 sobre o Vasco da Gama foi a melhor partida do Botafogo em 2007. Raríssimas vezes eu vi, em um clássico estadual, uma equipe demonstrar tamanho volume de jogo, fazendo com que um placar desse tamanho ficasse pequeno.
E, por ironia do destino, foi ali que começou a derrocada do time do Cuca. Afinal, o artilheiro dos golaços, autor de dois naquela partida, foi escolhido para fazer o exame antidoping depois do jogo.
Mas o que tudo isso tem a ver com o jogo contra o Atlético/PR, ocorrido quase um mês depois, em Brasília, no Mané Garrincha, no dia 07/07/07? É que foi naquela semana, em que os botafoguenses da Capital Federal pareciam viver um sonho, que o desastroso resultado do exame veio à tona, trazendo a todos uma história até hoje muito mal contada e que fez estragos para o Botafogo. A diretoria, comissão técnica e os jogadores souberam do resultado antes do jogo. Nós, torcedores, não. Talvez porque precisávamos viver aquele sonho sem que nada o interrompesse.
Naquela semana, eu vivi ainda mais intensamente o Botafogo, graças à interdição do Maracanã por causa do Pan. E com 39º de febre, no inverno seco do Centro-Oeste, viajei quase 200 km de Brasília pra Goiânia, na quarta-feira, dia 04/07/07, para ver o difícil jogo contra o Goiás, então vice-líder da competição.
Mesmo sendo, nos últimos anos, freguês do alviverde naquele estádio, não saí tão satisfeito assim com o empate em 1 x 1, pois jogamos melhor e fomos prejudicados com a má atuação da arbitragem, que nos obrigou a jogar com um a menos boa parte do jogo, após a absurda expulsão do zagueiro Alex.
No dia seguinte, na quinta-feira, aquele grupo de jogadores que nos fizeram ter certeza de que ficariam tão eternizados quanto os heróis de 95 foi muito bem recebido na Capital. Antes do primeiro, e único, treino aberto ao público, na sexta-feira, no Mané Garrincha, a correria era por ingressos. Em Taguatinga, onde moro, foi o primeiro lugar em que eles acabaram. Então saí mais cedo para assistir o treino e tentar garantir o meu lá no estádio.
Um pouco antes, logo depois do almoço, resolvi passar na 308 Sul, onde fica a FogãoShop, pois era sabido que alguns jogadores iriam pra lá distribuir autógrafos. Quando cheguei, pensei que o carnaval tivesse mudado de data e que a quadra estivesse interditada para o famoso Pacotão, um bloco carnavalesco tradicional aqui em Brasília. Com a rua lotada e o trânsito fechado, desisti e fui direto pro estádio.
Lá, consegui garantir meu ingresso e fui ver o treino.
Outra loucura.
Se não me engano, quase cinco mil pessoas estiveram lá, eufóricas. Nitidamente, uma torcida carente, que não se segurou e invadiu o gramado, tamanha era a empolgação. Lá, eu vi até sessão de ensaios de um casal de noivos (foto). E vi também um artilheiro com uma precisão incrível no treinamento de finalização. Mal sabia eu que uma tempestade estaria por vir, provocada por uma tal de femproporex.
No dia do jogo, a ansiedade era grande.
Já no estádio, o reencontro com um velho amigo de infância me fez ouvir uma frase que eu já tinha ouvido bastante depois da perda do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil: “algo bom está guardado pra nós ainda neste ano”.
A atuação impecável que o Botafogo apresentou naquela partida, diante de 25.000 torcedores, me fazia ter ainda mais certeza disso. Leandro Guerreiro me deixava boquiaberto com impressionante regularidade; Jorge Henrique voava a cada jogo; o Chefão comandava o meio com muita raça; para Juninho, sempre preciso nos combates, parecia não haver distância quando ele balançou a trave do meio da rua. Zé Roberto, que vinha muito mal, fez linda jogada na linha de fundo, moldurada com um genial corta-luz de Dodô, e exposta na galeria de arte com a conclusão perfeita de Lúcio Flávio.
Parecia uma orquestra sinfônica, ou um carrossel, como eu vi o PVC falar.
Para fazer pirar ainda mais a minha cabeça sonhadora, Dodô deixou o aniversariante do dia Joílson na boa pra fechar o placar. Mas como não é fácil a vida de um botafoguense, em uma rádio local, após o jogo, voltando do Mané, eu ouvi do técnico Cuca algo que não me tiraria a paz: “infelizmente, algo de ruim está prestes a aparecer para todos e que eu ainda não tenho autorização para contar”.
Imaginei que ele e/ou vários jogadores estivessem de saída, seduzidos pelas propostas do mercado externo. Antes, fosse…
Poucas horas depois, o site oficial do Botafogo anunciava o doping do nosso artilheiro, o camisa 7.
A camisa 7, que foi de Túlio Maravilha.
A camisa 7, que foi de Maurício.
A camisa 7, que foi de Mané Garrincha.
Tudo isso, no dia 07/07/07.
Não sei quanto a vocês, mas eu fiquei imensamente feliz com a participação especial do Fábio aqui no Fogo Eterno. Que texto sensacional, com riqueza de detalhes e emoção na medida certa! Valeu, Snoopy!