Quando acabou o jogo, o Pereirinha se aproximou e, com um sorriso radiante, me lembrou:
– Tá vendo, o Ney respondeu à sua pergunta. Ele sabe atacar!
Eu ainda não estou convencido, mas sei de uma coisa: a estrela do Ney brilha nos momentos decisivos. E, se ele está conosco e faz a nossa estrela se destacar ainda mais, não posso ficar contra o inventor do ferrolho mineiro.
Porque nesse domingo o Ney acertou em parte da escalação, ao manter o esquema de três zagueiros e tirar um dos volantes. Mas, na teoria, errou ao insistir no Lucazzzilva que, nos primeiros 45 minutos, foi espectador privilegiado da linda festa da torcida alvinegra – de dentro de campo, fica mais fácil assistir ao espetáculo. Pena que tem que jogar também.
E quando o Lucazzzilva caminhava para receber uma imensa vaia ao ser substituído, a estrela do Ney brilhou. E a enfiada precisa do Juninho encontrou o mexican boy livre de marcação – o cara acordou, e como se craque fosse, fez um golaço, digno de apoiadores de passos largos e elegantes, como Sócrates e Giovanni (aquele do Santos). Para mim, este gol, mais a defesaça do Renan minutos antes numa cabeçada à queima-roupa, resultado de uma falha clamorosa de marcação da zaga (alô, Juninho! Foi nas suas costas, capitão!) definiram o resultado da partida logo no início do segundo tempo.
E a primeira etapa, como é que foi?
Bem, foi de sentir muita saudade do Victor Simões. Pois, com um finalizador eficiente, a gente já teria definido o resultado antes de virar para o intervalo. O Reinaldo perdeu um gol ao deixar a bola passar pelo meio das pernas, após uma jogada incrível do Maicosuel – aliás, o nosso camisa 10 foi o grande destaque individual da partida, jogando de forma destemida e, ainda que abusando da individualidade em alguns lances, fazendo a diferença.
Como deve ser, sempre, um camisa 10 do Botafogo – sim, Lúcio Flávio, essa mensagem é para você, meu caro ex-capitão.
Com três zagueiros e uma atuação simplesmente MONSTRUOSA do Leandro Guerreiro (pronto, já deixei escapar minha outra nota dez…) nos desarmes, sem deixar os ligeirinhos do Resende se criar no campo alvinegro, o Botafogo sobrou em campo.
Fez a coisa certa. Mostrou sua superioridade técnica e tática, deixando o Resende perdido em sua pequenez.
Na segunda etapa, após o golaço do Lucazzzilva e da defesaça do Renan, as coisas se acalmaram. As substituições do Ney foram acertadas – e as entradas do Jean Carioca (sempre perigoso) e Léo Silva (muito seguro, e finalizando com perigo) garantiram com tranquilidade o resultado final.
Enfim, não temos apenas a Taça Guanabara 2009. Temos um time a caminho, que, com a contratação de um lateral-esquerdo de ofício (talvez até dois), mais um goleiro para reserva do Renan (sinceramente, acho que o Castillo não tem mais condições de barrar o Jovem Obama), pode dar caldo ao longo do ano.
Para quem não tinha sequer onze titulares no início do ano, é hora de comemorar.
E, sem medo de ser feliz nem de ser contraditório, eu abro meu coração e declaro:
– Parabéns, Ney Franco. Parabéns, presidente Maurício Assumpção. Parabéns a todos os jogadores. E, acima de tudo, parabéns torcida alvinegra, pela belíssima e inesquecível festa no Maracanã.
Assim eles se tornaram campeões da Taça Guanabara 2009:
Renan – Uma defesa dificílima numa cabeçada à queima-roupa em momento crucial do jogo. Nota 8
Alessandro – Apoiou com mais eficiência durante toda a partida. Mas é burrinho, burrinho… Nota 7
Thiaguinho – Não tem nem cacoete de lateral, mas tem compensado com disposição. Nota 6
Emerson – Não comprometeu de novo, o que é sempre um elogio. Nota 6
Juninho – Uma partida bem esquisita de nosso capitão: boas antecipações, deu o passe preciso para o Lucazzilva, mas falhou feio na marcação na grande chance do Resende e ainda errou de forma bisonha todos os chutes. Nota 6,5
Wellington – Sobriedade e tranquilidade, virtudes raras para um zagueiro tão jovem. Nota 7
Leandro Guerreiro – Uma partida irretocável, do nível de suas melhores atuações em 2007. Como sobrevivente dos anos anteriores, ele merecia mais do que ninguém levantar essa Taça. Nota DEZ
Fahel – Chama atenção a sua capacidade de deslocamento, mesmo quando atua de forma mais discreta, como nesse domingo. Nota 8
Maicosuel – Ele sabe usar a camisa 10. Ele recebe a nota DEZ.
Lucazzilva – O seu despertar, com um golaço, é daquelas histórias que só o futebol pode proporcionar. Pelo gol, nota 10, pelos 45 minutos, nota 1. Nota final: 5,5
Reinaldo – Um gol de oportunismo, outros chutes descalibrados, chances incríveis perdidas, tudo isso no primeiro tempo. Foi mais eficiente para o time na segunda etapa. Nota 8
Wellington Júnior – O garoto precisa amadurecer. Nota 2
Léo Silva – Ótima participação, mesmo com pouco tempo de jogo. Nota 7
Jean Carioca – Apesar de erro em finalização cara-a-cara, é um jogador que precisa ganhar mais chances, pois é rápido e objetivo: procura sempre o gol. Nota 7
Ney Franco – Como você fez o Botafogo ganhar, com sobras e méritos, a Taça Guanabara, eu me rendo. E ainda vou ter que ouvir suas músicas, Ney, já estou preparando os meus tímpanos… Nota 8
Camisa do Resende – Fala sério, quem foi o estudante da sétima série que pegou o estoque de tinta guache da sala da professora de Artes para pintar aquela maravilha estampada na frente da camisa do time? Parecia trabalho de gincana escolar! Nota ZERO.